Autores: Raphaela A. Duarte Silveira, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
O canudo plastico é um dos maiores vilões para o ambiente marinho. Fonte: sabines/Pixabay (Domínio Público).
Você já parou pra pensar na vida útil de um canudo plástico? Em média, 4 minutos! Ou seja, praticamente o tempo que você tem para terminar a sua bebida. Agora imagine se cada pessoa usasse um canudo desses por dia. Seriam mais de 7 bilhões de canudos plásticos usados e descartados em UM ÚNICO DIA!! Mas a história não para por aí. Constituídos principalmente por polipropileno e poliestireno, esses canudos demoram cerca de 200 anos para se decompor!
PROBLEMA GLOBAL
O uso de canudos tornou-se natural em nossas vidas, principalmente quando frequentamos bares e restaurantes. Essa ação é tão automática que, quando percebemos, estamos tomando um refrigerante ou milk-shake com um canudo... e não há problema nisso se utilizarmos o canudo correto para isso.
Ao pedir uma bebida, no estabelecimento que frequenta, recuse canudos plásticos e exija que venha com canudos reutilizáveis Fonte: Pexels/Pixabay (Domínio Público).
No relatório da Ocean Conservancy’s International Coastal Cleanup (Limpeza Costeira Internacional da Ocean Conservancy) de 2018, os canudos e mexedores de plástico foram os sétimos itens mais encontrados nas costas e praias dos países ao longo do mundo todo, contabilizando 643.562 unidades. No Brasil, um estudo de 2009 encontrou vários materiais plásticos na Costa do Dendê, no nordeste brasileiro. Entre eles, os canudos se destacaram entre os materiais, sendo os mais encontrados em praias turísticas, ou seja, que possuem contato direto com o homem.
Tente contar quantos canudos plásticos aparecem acima. Fonte: giogio55/Pixabay (Domínio Público).
Os canudos plásticos causam danos não somente quanto à poluição dos oceanos, mas também à fauna marinha. Pesquisadores da UFRG publicaram um estudo em 2010 sobre a acumulação de detritos marinhos em organismos de tartarugas-verdes e aves marinhas.
Todas as tartarugas e 40% das aves apresentavam detritos em seus organismos, sendo o plástico o principal material ingerido.
Foram encontrados canudos plásticos em 35% das tartarugas-verdes, no estômago e/ou no intestino. Outro estudo, realizado por pesquisadores da UFRRJ, em 2011, encontraram um pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) com seu estômago perfurado por canudo plástico, o que pode ter levado à sua morte.
Uma revisão bibliográfica em 2016 concluiu que um dos itens mais comuns de detritos marinhos reportados como lixo e que causam efeitos negativos nos organismos vivos foram os canudos plásticos.
TODOS CONTRA OS CANUDOS PLÁSTICOS
Ultimamente têm ocorrido discussões sobre o uso não somente de canudos plásticos, mas de outros itens plásticos que se utilizam somente uma vez. Diversos países, como a Escócia, o Reino Unido e até mesmo o Brasil (mais especificamente o Rio de Janeiro) baniram ou pretendem banir o uso de canudos plásticos em restaurantes, bares, lanchonetes e afins.
A rede de cafeterias Starbucks anunciou que até 2020 pretende abandonar o uso de canudos plásticos nas suas redes no mundo todo, inclusive no Brasil, evitando o consumo de mais de um bilhão de unidades deste item. Seguindo o mesmo exemplo da Starbucks, a rede de fast food McDonald’s também anunciou que irá substituir o uso de canudos plásticos por outros materiais em suas lojas do Reino Unido e da Irlanda.
Devemos salientar que há pessoas que necessitam utilizar canudos por serem uma ferramenta de acessibilidade. Ou então, há outras que simplesmentegostam de utilizá-los. Caso uma pessoa dependa, ou queira utilizar o canudo, existem alternativas ao plástico que causam menor impacto no ambiente.
ALTERNATIVAS AO PLÁSTICO
Todos os fatos mostrados acima são alarmantes sim, mas podemos melhorar e minimizar essa situação. Diversos canudos alternativos têm chegado ao mercado e cada vez mais estão se tornando populares.
1. Canudos metálicos: são reutilizáveis por muito tempo. Podem ser feitos de aço de inox, alumínio e aço cirúrgico; retos ou então curvos e cores variadas. Alguns deles podem até vir com protetor labial para sensibilidade dos dentes. Não são tóxicos, os melhores são certificados pela FDA americana, são práticos, podem sem carregados em ecobags (inclusive personalizadas), são higiênicos, vem geralmente acompanhados de escova de limpeza de inox com cerdas de nylon.
Canudos metálicos em diversas cores. Fonte: Can.u.do ©.
Kit de canudos metálicos e limpador interno. Fonte: Can.u.do ©.
2. Canudos de bambu: provêm de uma fonte renovável, o bambu. Geralmente descartado após o uso.
Canudos de bambu. Fonte: Wicker Paradise/Flickr (CC BY 2.0).
3. Canudos de silicone: duram mais que os de plástico, mas não são recicláveis, o que pode gerar lixo no futuro, uma vez que se desgasta. São reutilizáveis por um certo período de tempo.
4. Canudos de papel: biodegradam mais facilmente que o plástico, mas até isso ocorrer são fontes de poluição após o seu uso, pois também são descartáveis.
Canudos de papel. Fonte: rodgersm222/Pixabay (Domínio Público).
5. Canudos de palha: são uma ótima alternativa para o meio ambiente e também para a saúde humana, principalmente se for palha orgânica. São descartados após o uso.
6. Canudos de vidro: essa opção é reciclável e durável. Podem ser reutilizáveis, porém, sem os devidos cuidados, podem quebrar.
Canudo de vidro. Fonte: GlassDharma/Flickr (CC BY 2.0).
7. Canudos Bio Comum: possuem na sua composição um aditivo que acelera o processo de degradação no meio ambiente. Ele é 100% reciclável, sem resíduos tóxicos e cheiro, porém até a sua degradação é um resíduo na natureza. Não é reutilizável.
Com base na problemática causadas pelos canudos plásticos, levantada acima, cabe a nós pensarmos no nosso estilo de consumo e na necessidade dos mesmos. Hoje em dia temos uma gama de produtos que podem substituir o plástico dos canudos. Vamos fazer a diferença!
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Bibliografia
BBC. Mundo declara guerra ao canudo plástico, vilão do meio ambiente. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44419803. Acesso em: 27 jan. 2018.
BRANDÃO, Martha L.; BRAGA, Karina M.; LUQUE, José L. Marine debris ingestion by Magellanic penguins, Spheniscus magellanicus (Aves: Sphenisciformes), from the Brazilian coastal zone. Marine pollution bulletin, v. 62, n. 10, p. 2246-2249, 2011.
OCEAN CONSERVANCY. Building a Clean Swell - 2018 Report. Disponível em: https://oceanconservancy.org/wp-content/uploads/2018/07/Building-A-Clean-Swell.pdf. Acesso em: 27 jan. 2018.
ROCHMAN, Chelsea M. et al. The ecological impacts of marine debris: unraveling the demonstrated evidence from what is perceived. Ecology, v. 97, n. 2, p. 302-312, 2016.
SANTOS, Isaac R.; FRIEDRICH, Ana Cláudia; DO SUL, Juliana Assunção Ivar. Marine debris contamination along undeveloped tropical beaches from northeast Brazil. Environmental Monitoring and Assessment, v. 148, n. 1-4, p. 455-462, 2009.
TOURINHO, Paula S.; DO SUL, Juliana A. Ivar; FILLMANN, Gilberto. Is marine debris ingestion still a problem for the coastal marine biota of southern Brazil?. Marine Pollution Bulletin, v. 60, n. 3, p. 396-401, 2010.