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Quais são os reais impactos de um vazamento de petróleo nos oceanos?

Atualizado: 30 de jul. de 2020

Autores: Nicholas Negreiros, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró


Imagem mostrando o oceano com algumas ondas no plano anterior da foto. Ao fundo aparece uma plataforma de petróleo. O céu está com a tonalidade laranja.

Plataforma em operação perto da costa. Fonte: catmoz/Pixabay.



Todos nós já ouvimos falar sobre diversos acidentes decorrentes da exploração de petróleo no leito marinho. Mas será que de fato sabemos como isso pode afetar o ambiente e como o petróleo bruto age sobre a fauna e a flora dos mares?



DEEPWATER HORIZON: O MAIOR DESASTRE MARINHO DA HISTÓRIA


Um dos principais incidentes ocorreu em Abril de 2010 na plataforma Deepwater Horizon, unidade semissubmersível que se encontrava no Golfo do México a apenas 66 km da costa do Estado da Louisiana, nos Estados Unidos da América. Esse acontecimento tornou-se um dos maiores desastres ambientais do mundo, quando um blowout ocorreu durante a fase de cimentação do poço.


Enquanto os técnicos trabalhavam para conter o vazamento, o alarme de presença de gás soou. O metano se espalhou rapidamente pela unidade e encontrou a sala de máquinas onde ocorreu a primeira explosão. Todos começaram o processo de evacuação da unidade e apenas um funcionário ficou para tentar acionar o sistema e conter o poço, mas já era tarde demais. O blowout estava descontrolado e a Deepwater Horizon ficou tomada por gás metano.


A estrutura da plataforma não suportou as explosões e milhares de toneladas de óleo foram liberadas no mar. A vida marinha na região agonizou com danos que levariam anos para serem reparados.


Imagem da plataforma pegando fogo. Uma fumaça cinza escuro está saindo enquanto quatro navios pipa estão jogando água para tentar controlar o fogo.

Plataforma Deepwater Horizon após a explosão. Fonte: Wikimedia Commons (CC0).



Hoje enfrentamos um inimigo em comum com a região afetada pelo vazamento da Deepwater Horizon. Numa menor intensidade mas, ainda assim, alarmante. Um vazamento de óleo bruto chegou até a costa brasileira pela região Nordeste e está causando grande preocupação, tanto na comunidade científica brasileira quanto na população e no governo.



COMO O PETRÓLEO PODE PREJUDICAR O AMBIENTE MARINHO?


O petróleo pode prejudicar o ambiente marinho agindo de forma agressiva em vários aspectos, atingindo organismos marinhos e também organismos que dependem do mar para conseguir alimento.



Plâncton: o primeiro impacto


Assim como em qualquer vazamento químico nos mares, as primeiras espécies a serem atingidas pertencem ao plâncton. São seres que dependem das marés para se movimentar, por isso ficam vulneráveis à contaminação. É bom lembrar que essas espécies são a base da cadeia alimentar nos mares. Com a falta desses organismos, o ecossistema local sofre um enorme desequilíbrio.



Tartarugas marinhas


As tartarugas atingidas pelo óleo sofrem com a contaminação quando sobem até a superfície para respirar e ficam presas nas manchas de óleo. Sem conseguir respirar, morrem sufocadas. Também são verificados danos nos sistemas digestivo, imunológico e outros. Em tartarugas mais jovens, o óleo pode causar morte direta.


A imagem mostra um veterinário dentro de uma embarcação segurando uma tartaruga marinha toda suja de óleo. Ao fundo vemos o mar.

Veterinário da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos) retirando uma tartaruga marinha banhada em óleo para limpeza após o acidente com a Deepwater Horizon. Fonte: NOAA's National Ocean Service/Wikimedia Commons (CC BY 2.0).



Crustáceos e moluscos


Os dispersantes químicos jogados no mar, usados para combater as manchas de óleo, também influenciam na morte da fauna e da flora. Esses compostos atuam como um tipo de detergente, quebrando as partículas do óleo em pedaços invisíveis a olho nu, trazendo assim outro problema: a contaminação de crustáceos bentônicos e outros moluscos filtradores, causando a chamada "dupla perda".



Algas e Peixes


Dependendo da densidade dessas manchas, o óleo pode impedir que as algas recebam luz para fazer normalmente a fotossíntese, afetando a troca gasosa das algas marinhas e reduzindo o teor de gás oxigênio na coluna d’água. Isso causa insuficiência respiratória nos peixes, levando-os à morte.


Os peixes também sofrem danos quando suas brânquias entram em contato com o óleo, pela ingestão de alimentos contaminados (crustáceos e moluscos) e pela absorção de compostos tóxicos presentes na coluna d’água durante sua respiração.



Aves marinhas


Grande parte da biodiversidade das aves marinhas e costeiras do mundo se abriga também aqui no Brasil. Esses animais possuem uma camada de óleo natural que impermeabiliza as suas penas, permitindo que elas mergulhem e levantem voo sem problemas. O óleo denso e pesado sobrepõe essa camada, impedindo o voo e fazendo com que elas afundem quando estão na água. As aves também perdem a capacidade de manter sua temperatura corporal, podendo morrer de frio.


No acidente com a plataforma Deepwater Horizon, aves foram encontradas com queimaduras, problemas nos rins, nos pulmões e em diversos órgãos internos, já que ao tentarem tirar o óleo de suas penas com o bico, elas acabam ingerindo o produto.


Imagem de um pelicano com o bico e as asas abertas. Ele está todo sujo com óleo assim como a água ao seu redor.

Pelicano tentando sair do óleo resultante do acidente de Abril de 2010 na costa da Louisiana. Fonte: Charlie Riedel/AP Images/Boston.com



Seres humanos: não estamos isentos!


Nós, seres humanos, também somos atingidos em cheio por esse incidente, já que os frutos do mar que consumimos são contaminados. Além das dificuldades da comunidade pesqueira, que perde seu sustento. Podemos ver vários vídeos e fotos na internet de cidadãos nas praias do nordeste brasileiro ajudando os animais atingidos e retirando toneladas de óleo das praias, arriscando sua própria saúde sem recurso algum.


É importante ressaltar que o óleo é extremamente tóxico. Em longo prazo o nosso corpo sofre com impactos nos sistemas reprodutivo, respiratório, endócrino e várias outras anormalidades. Os efeitos em curto prazo envolvem irritações pelo corpo, náusea, ferimentos, coceira nos olhos, etc. Portanto, para o manejo desse material, o uso de EPI (luvas, galochas, máscaras, entre outros) é imprescindível.


Um vazamento de petróleo é algo realmente grave para o ambiente marinho. Por mais que o óleo bruto seja contido, a parte do óleo que se dissolve na água se espalha, contaminando toda a costa por quilômetros. Ao longo da história, nossos mares têm sofrido com esses incidentes em petrolíferas e o óleo não só mata espécimes marinhos, ele também destrói o seu habitat deixando cicatrizes irreversíveis. Este é um problema ambiental que deve ser prevenido em todas suas instâncias.


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Bibliografia


PEREIRA, Rogério Ferreira. ANÁLISE DO DEEPWATER HORIZON BLOWOUT : APLICAÇÃO DOS MÉTODOS FRAM e STAMP. 2016. 107 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <http://dissertacoes.poli.ufrj.br/dissertacoes/dissertpoli1709.pdf>


PEREIRA, Alice. Guia fotográfico: aves do Rio Grande do Sul. Exposição temporária/Museu de ciências naturais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Maurício Tavares [revisão] ; Lucas A. Morates [organizador]. – Imbé, RS, 2018. 49 p. : il. color. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/mucin/wp-content/uploads/2018/09/Guia-Aves-do-Litoral-compressed.pdf>


Plano de ação nacional para a conservação das Tartarugas Marinhas / Alexsandro Santana dos Santos ... [et al.]; organizadores: Maria ngela Azevedo Guagni Dei Marcovaldi, Alexsandro Santana dos Santos. – Brasília : Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Icmbio, 2011. 120 p. : il. color. ; 21 cm. (Série Espécies Ameaçadas, 25); Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-plano-de-acao/pan-tartarugas/livro_tartarugas.pdf.


REYNIER, Marcia Vieira. Efeitos de um Derrame Simulado de Petróleo sobre a Comunidade Planctônica costeira em Angra dos Reis (RJ). 2003. 131 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/1560/TeseMVR.pdf?sequence=1>



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