Autores: Raphaela Alt Müller, Thais R. Semprebom, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró
As focas, na sua maioria, vivem em águas geladas, mas a foca-monge faz seu lar nas águas quentes. A foca-monge-havaiana, Monachus schauinslandi, no Oceano Pacífico e a foca-monge-do-Mediterrâneo, Monachus monachus, são as duas únicas espécies sobreviventes, enquanto a foca-monge-do-Caribe, Monachus tropicalis, foi declarada extinta em 2008.
Os havaianos nativos chamam a foca de "ilio-holo-i-ka-uaua", que significa "cachorro que corre em águas agitadas". A foca-monge-havaiana, Monachus schauinslandi, é endêmica do Arquipélago do Havaí e está entre as espécies de mamíferos marinhos mais ameaçadas do mundo. Ela faz parte da família Phocidae, tem a cabeça pequena e achatada, focinho curto com as narinas no topo, olhos grandes e oito pares de dentes.
Foca-monge-havaiana nadando nos mares havaianos. Fonte: Koa Matsuoka/Flickr (CC BY-NC 2.0).
Elas possuem o corpo esguio, são capazes de prender a respiração por até 20 minutos e mergulhar mais de 555 metros. As focas-monge-havaianas podem viver mais de 30 anos. Os machos adultos pesam cerca de 160 kg e medem 2 metros de comprimento; já as fêmeas pesam cerca de 250 kg e 2,4 metros de comprimento. Esses animais acasalam dentro da água e as fêmeas normalmente começam a se reproduzir aos cinco anos. Os filhotes nascem com aproximadamente 16 kg e com 1 metro e, durante a amamentação, a mãe perde até 140 kg.
GRANDES CAÇADORAS
As focas-monge-havaianas alimentam-se principalmente de peixes ósseos, cefalópodes e crustáceos. Porém, possuem uma dieta diversificada devido ao forrageamento, predando uma grande quantidade de espécies disponíveis.
As características corpóreas e sua grande capacidade de nado das focas em geral, fazem com que esses indivíduos sejam ótimos predadores, controlando assim, muitas espécies de animais que poderiam causar um desequilíbrio no ambiente marinho.
Uma foca-monge-havaiana juvenil se coçando na Ilha de Tern, French Frigate Shoals, Havaí. Fonte: Mark Sullivan, NOAA Fisheries Hawaiian Monk Seal Research Program/Flickr (CC BY-NC 2.0).
SITUAÇÃO POPULACIONAL
Esta espécie está classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), como categoria de ameaça de extinção, C1, ou seja, a população teve um declínio geral de mais de 20% em duas gerações (30 anos).
A população atual total das focas-monge-havaianas é de cerca de 1.500 indivíduos e cada vez mais está sendo ameaçada pelo aumento populacional nas ilhas do Havaí, incidentes com redes de pescas, detritos marinhos, como o plástico, que pode se prender ao corpo do animal impedindo sua alimentação e/ou locomoção, doenças e caça comercial para aproveitamento da pele. Além disso, existe a limitação de alimentos, que pode estar relacionada às mudanças nas condições oceanográficas, como o aumento da temperatura do oceano e predação por tubarões, especialmente em filhotes pré-desmamados e recém-desmamados, que contribuem para a diminuição drástica dessas populações de focas.
Em 1909, o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, criou o Refúgio Nacional da Vida Selvagem das Ilhas Havaianas (HINWR). Em 2006, uma Proclamação Presidencial estabeleceu o Monumento Nacional Marinho Papahanaumokuakea, criando assim a maior área marinha protegida do mundo e proporcionando à foca-monge-havaiana proteção adicional.
Extensão do Monumento Nacional Marinho Papahanaumokuakea, a maior área marinha protegida do mundo. Estas ilhas fazem parte do Havaí, no Oceano Pacífico. Fonte: NOAA/Wikimedia Commons (CC0).
O NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) financia pesquisas sobre a dinâmica e saúde da população de focas-monge-havaiana em conjunto com o Marine Mammal Laboratory (Centro de Mamíferos Marinhos). Vários programas foram formados com a ajuda do NOAA para ajudar na conservação dessa espécie, como o PIRO (Pacific Islands Regional Office) (Escritório Regional das Ilhas do Pacífico) e parceiros como a Marine Mammal Response Network - MMRN (Rede de Respostas a Mamíferos Marinhos) .
Em 2011, o Serviço Nacional de Pescas Marinhas (National Marine Fisheries Service) criou um projeto intensivo para melhorar a proteção da foca-monge-havaiana. Alguns dos planos são realizar o levantamento remoto das focas, com o auxílio de câmeras e aeronaves não tripuladas, estudar possíveis vacinas para diminuir a mortalidade por doenças como, herpes e leptospirose, desparasitação dos juvenis (toxoplasmose é uma das principais causas de morte), suplementar a alimentação, impedir o contato indesejado com pessoas e equipamentos de pesca nas ilhas, remoção dos machos agressivos ou translocação de focas jovens para longe das áreas com machos agressivos.
Em 2014, uma instalação de reabilitação de focas financiada e administrada por empresas privadas foi construída para apoiar os esforços de recuperação. Este hospital, Hawaiian Monk Seal, tem o propósito de cuidar de focas de todo o arquipélago que estão doentes, feridas, magras ou que precisam de reabilitação.
PREVISÕES
A NOAA Fisheries programou um novo plano de ação para auxiliar na recuperação das focas-monge-havaianas, com início em 2021 e previsão de ir até 2025. A recuperação de focas ainda enfrenta desafios e requer recursos e compromissos adicionais para ser superada.
Não é fácil reverter a tendência de rápido declínio populacional das últimas décadas, especialmente considerando a logística de trabalho no vasto e remoto arquipélago que se estende por milhares de quilômetros. Embora o crescimento das populações de focas-monge-havaiana nas principais ilhas do Havaí seja encorajador, também significa um aumento no número de interações com pescadores e outros usuários marinhos. Por esta razão, a continuidade dos planos de ação são importantes independentemente do crescimento populacional. A equipe de profissionais responsáveis pela recuperação deve intervir e salvar as vidas das focas nessas áreas remotas, bem como investigar e monitorar as populações.
Bibliografia
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SILLS, J.; PARNELL, K.; RUSCHER, B.; LEW, C.; KENDALL, T.l.; REICHMUTH, C. Underwater hearing and communication in the endangered Hawaiian monk seal Neomonachus schauinslandi. Endangered Species Research, [S.L.], v. 44, p. 61-78, 2021. Disponível em: https://www.int-res.com/abstracts/esr/v44/p61-78/. Acesso em: 10 de jun. de 2021.
Centro de Ciências Pesqueiras das Ilhas do Pacífico do Serviço Nacional de Pesca Marinha, parte de Administração Oceânica e Atmosférica Nacional. Honolulu, HI, EUA. 28 de janeiro de 2010.
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