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As baleias, o fitoplâncton e o aquecimento global

Autores: Jéssica Nunes Teixeira, Raphaela Alt Müller, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró


Baleia de cor branca e cinza beirando ao preto na superfície da água. Aparenta estar boiando e imóvel.

Baleia na parte mais superficial do oceano, local de defecação e também onde se encontra o fitoplâncton. As fezes das baleias funcionam como “adubo” para o desenvolvimento do fitoplâncton. Fonte: Sylke Rohrlach/WikimediaCommons (CC BY-SA 2.0).



O planeta Terra passa por mudanças climáticas cíclicas ao longo das eras geológicas. Entretanto, a emissão desenfreada de gases que aumentam o efeito estufa por atividades humanas levou ao agravamento desse mecanismo natural. Assim, o aumento da temperatura média do planeta já é previsto e o aquecimento global se mostra presente a cada dia. A exemplo, têm-se o derretimento do gelo polar, incêndios severos, secas intensas, aumento do nível do mar e inundações. Todavia, o planeta possui mecanismos para auto regulagem da sua temperatura e o oceano possui um papel fundamental nesse processo.


Uma das consequências do aquecimento global é o derretimento das calotas polares. Fonte: Doug Scortegagna/Flickr (CC BY 2.0).



CICLO DO CARBONO: CICLO BIOLÓGICO


Um dos gases do efeito estufa é o gás carbônico (CO2) e a sua emissão descontrolada para a atmosfera agrava esse fenômeno. No entanto, o ciclo do carbono consiste na liberação e retorno desse gás ao meio ambiente com o intuito de manter o equilíbrio essencial para a vida. No ciclo biológico, a fotossíntese terrestre é responsável por capturar CO2 do ar, assim como o fitoplâncton marinho. Ademais, na superfície do oceano, ocorrem trocas gasosas com a atmosfera. Sendo assim, a água marinha possui um papel fundamental no ciclo do carbono. Vale ressaltar que o fitoplâncton, ao absorver o CO2 e armazenar em suas células, utiliza esse gás para formação de moléculas de glicose (energia para as células). Além disso, os mares gelados são capazes de transportar o CO2 para as profundezas marinhas, uma vez que tal gás é mais solúvel em altas pressões e baixas temperaturas.



OS VERDADEIROS HERÓIS


No desenho Bob Esponja, os heróis da fenda do biquíni são o Homem-sereia e o Mexilhãozinho. Entretanto, do ponto de vista biológico, os verdadeiros heróis são a Pérola (baleia) e o Plâncton. O plâncton é formado por organismos que ficam em suspensão na água e que englobam os fitoplâncton, seres responsáveis pela absorção do gás CO2 e produção de oxigênio (O2). Por fim, o zooplâncton é a outra parte do plâncton, a qual envolve animais pequenos ou sem a capacidade de vencer a movimentação das correntes. Apesar de ser bem pequenino, o fitoplâncton é a base de alimento para os pequenos animais. Posteriormente, servem para alimentar os subsequentes das cadeias alimentares.


Comunidade de seres microscópicos. Alguns tem o formato de esferas e outros uma forma mais alongada. Todos em um fundo amarelo.

Comunidade de fitoplâncton vista ao microscópio. Fonte: Lino M/Flick (CC BY-SA 2.0).



De maneira geral, toda a vida no oceano depende do fitoplâncton e, por sua vez, precisa de luz, temperatura adequada, fósforo e nitrogênio para seu desenvolvimento e reprodução. Portanto, com o aquecimento da temperatura superficial dos mares, a superfície fica menos densa que o fundo, e os nutrientes presentes nas profundezas não conseguem atingir a superfície.


Esquema ilustrativo que no céu, mostra-se o sol e têm-se o gás carbônico espalhado pelo ar. No oceano, apresentam-se duas camadas. A primeira, superficial, onde está o fitoplâncton. Um X vermelho sinaliza que os nutrientes, presentes na segunda camada, não passam da segunda camada para a primeira.

Com o aquecimento da água superficial, existe uma barreira térmica que impede a passagem de nutrientes de lugares mais profundos para locais mais superficiais. Fonte: © 2021 Mateus Gonzatto e Victória Hillesheim.



ONDE AS BALEIAS ENTRAM NESSA HISTÓRIA?


Todos os seres vivos possuem carbono em sua constituição corporal. Logo, as baleias têm uma grande biomassa. Assim, elas funcionam como um depósito vivo de CO2 e, quando morrem, afundam até o leito oceânico, carregando grandes toneladas de carbono. As baleias realizam a respiração pulmonar na superfície, e nesse momento também defecam na camada superficial do oceano. Dentro dessa matéria fecal existem os principais nutrientes para a utilização do fitoplâncton: nitrogênio e fósforo. Muitas baleias migram de regiões onde há muita riqueza de nutrientes para regiões mais pobres durante esse processo, por consequência, o fitoplâncton se desenvolve nessas áreas.



ESTUDOS COMPROVAM


Em 2016, foi realizado um estudo com Eubalaena glacialis, a baleia-franca do Atlântico Norte. Nele, possibilitou-se a análise de amostras fecais das baleias e seu papel na baía de Fundy, na América do Norte. Coletaram as fezes dessas baleias. Em seguida, examinou-se em laboratório os nutrientes do fitoplâncton, nitrato, amônia, fosfato e concentração de nitrogênio orgânico particulado (PON). E foi estabelecida uma correlação entre o material fecal e o desenvolvimento mais rápido do fitoplâncton.


SALVEM AS BALEIAS


Dado o contexto, são nítidos os benefícios da relação entre baleias e o fitoplâncton. Além disso, vê-se uma conveniência na manutenção de grandes populações destes animais para o combate do aquecimento global.




Bibliografia


CHAMI, R. et al. Nature’s solution to climate change. Finance and Development Magazine, v. 56, p. 34-38, 2019.


DEVRIES, T. The Ocean Carbon Cycle. Annual Review of Environment and Resources, v. 47, p. 317-341, 2022.


GLIBERT, P. M. Tiny Phytoplankton: The Most Powerful Organisms of the Oceans! Frontiers for Young Minds, v. 9, 2021.


ROMAN, J. et al. Endangered right whales enhance primary productivity in the Bay of Fundy. PLoS One, v. 11, n. 6, p. e0156553, 2016.


Science Learning Hub – Pokapū Akoranga Pūtaiao. (2021). The ocean and the carbon cycle. Disponível em: https://www.sciencelearn.org.nz/resources/689-the-ocean-and-the-carbon-cycle. Acesso em: 16 abr. 2023.


VIANNA, S.; SANQUETTA, C. R. Mudanças climáticas e o fitoplâncton marinho: uma revisão. ENCICLOPEDIA BIOSFERA, v. 8, n. 15, 2012.







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