Autores: Lívia Serezani Munhoz, Raphaela A. Duarte Silveira, Raphaela Alt Müller e Douglas F. Peiró
Ouriço-do-mar vivendo sobre esponja. Fonte: Santuários Marinhos Nacionais NOAA/WikimediaCommons (Domínio Público).
A biodiversidade deve ser conhecida para ser conservada. Neste artigo falaremos sobre organismos que poucos sabem que são animais: as esponjas. Do latim porus: poro e ferre: possuidor, o Filo Porifera (ou esponjas), como traz o nome, são os animais que possuem poros. Os poríferos são mais diversos em ambientes marinhos mas podem ser encontrados em todo tipo de águas: rios, mares, estuários, fossas abissais, seja em regiões tropicais e polares. Dentro do filo, encontramos uma imensa variedade de formas, cores e diferenças fisiológicas. Esses animais possuem uma estrutura simples, sem tecidos verdadeiros e são considerados um dos animais multicelulares mais antigos e primitivos que existem, e possivelmente surgiram cerca de 1 bilhão de anos atrás.
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA E TIPOS DE SIMBIOSE
As esponjas são organismos bentônicos (que vivem no fundo), fixados a um substrato, e se alimentam por meio de um mecanismo de filtração da água. São animais sésseis (não se locomovem) e estão intimamente relacionados a outros organismos, seja como substrato, local de abrigo, de reprodução, entre outros. Na ecologia, chamamos essa interação entre organismos de simbiose que significa “viver junto”, essas interações podem favorecer ou prejudicar os envolvidos. Vamos conhecer alguns tipos de simbioses envolvendo poríferos.
SIMBIOSE COM ANELÍDEOS
Algumas espécies de anelídeos, conhecidas popularmente como vermes, se beneficiam diretamente dos poríferos. Esses vermes utilizam as cavidades das esponjas como abrigo contra predadores e local de reprodução. Esse tipo de simbiose se caracteriza no comensalismo, onde as espécies de anelídeos são favorecidas, enquanto as espécies de poríferos não são beneficiadas nem prejudicadas.
SIMBIOSE COM ALGAS MARINHAS
Macroalgas epífitas (que vivem sobre outros organismos) são observadas sobre as esponjas, usando-as como substrato. O tipo de simbiose dessa relação pode ser caracterizado em comensalismo, porém, o crescimento descontrolado dessas algas pode preencher as cavidades internas das esponjas, impedindo-as de executar a filtração alimentar, podendo resultar na morte do animal.
Algas epífitas (marrons) crescendo sobre esponjas calcárias (laranja e amarelo). Fonte: Bernard Dupont/WikimediaCommons (CC BY-SA 2.0).
SIMBIOSE COM OURIÇOS-DO-MAR
Também é comum presenciar animais vivendo sobre as esponjas. Como é o caso do ouriço-do-mar! Os ouriços possuem uma movimentação lenta, costumam encontrar um habitat e viver ali durante boa parte da vida. Sua principal fonte de alimentação são as algas; como já citado, existem muitas espécies de algas que crescem sobre as esponjas, assim, além de se beneficiarem com o alimento, os ouriços também ajudam as esponjas no controle de crescimento dessas algas. Essa interação caracteriza uma simbiose do tipo mutualismo, onde as duas espécies estão sendo beneficiadas. Além dos ouriços, espécies de anêmonas e gastrópodes também podem ser observados em simbiose.
PREDAÇÃO
Por fim, podemos citar a simbiose do tipo predatismo, onde as esponjas servem de alimento para diversas espécies, sendo uma delas as tartarugas marinhas. Algumas espécies de poríferos apresentam toxinas que servem para se protegerem contra a predação. Algumas podem até causar dermatite em humanos após o contato.
PESCA E USO POR HUMANOS
Por muito tempo as esponjas foram usadas pelos humanos para higiene corporal e de ambientes, sendo sua pesca reduzida a partir do início da produção de esponjas sintéticas. Ainda hoje, em algumas culturas, o uso desses animais ainda está presente.
IMPORTÂNCIA
Ao longo do artigo, pudemos entender que esse filo está intimamente ligado à diversas relações ecológicas, e a perda desses animais impacta diversas outras espécies. Esponjas são animais importantes para a biodiversidade por possuírem um importante papel ecológico. Entretanto, são animais sensíveis, que estão constantemente sendo prejudicados por ações antrópicas diretas (como vazamento de petróleo) e indiretas (como o aquecimento das águas do oceano). Quando cuidamos e protegemos o meio ambiente, estamos conservando a imensa biodiversidade que existe nele. Devemos proteger e respeitar o equilíbrio ecológico natural.
Representação de colônia de esponjas. Fonte: © 2023 Lívia Serezani Munhoz.
Bibliografia
CASTRO, P.; HUBER, M. E. Biologia marinha. AMGH Editora, 2012. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=a3EDgi71TcsC&oi=fnd&pg=PR7&dq=biologia+marinha+peter+castro&ots=YRVPZtOBf4&sig=ghUrpXOUNUNfDys0mkYIv56H4Zw#v=onepage&q=biologia%20marinha%20peter%20castro&f=false>. Acesso em: 02 de set. de 2023.
DO NASCIMENTO, F. S. Biologia dos Invertebrados I- Aula 4. UFS. 2009. Disponível em: <Biologia dos invertebrados.pmd (ufs.br)>. Acesso em: 02 de set. de 2023.
LIRA, A. L. O. Taxonomia e biologia dos Branchiosyllis (Annelida: Syllidae) associados a Cinachyrella (Porifera: Demospongiae). 2021. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.
MURICY, G.; HAJDU, E. 2006. Porifera Brasilis: Guia de identificação de esponjas marinhas do Sudeste do Barsil. Museu Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. 104 pp. Disponível em: <https://www.academia.edu/16381683/Porifera_Brasilis_guia_de_identifica%C3%A7%C3%A3o_das_esponjas_marinhas_mais_comuns_do_Sudeste_do_Brasil>. Acesso em: 02 de set. de 2023.
RODRIGUES, F. S. et al. Associação entre esponjas (porifera, Demospongiae) e macroalgas (chlorophyta e rhodophyta) no afloramento rochoso da praia do Araçagy, São Luís- Maranhão. In: Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil. p. 1-2.