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Cnidários e sua incrível diversidade de funções

Autores: Filipe Guilherme Ramos Costa Neves, Lucas Rodrigues da Silva,Thais R. Semprebom, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Fotografia de diversos corais, aparentemente em um aquário. Os animais possuem cores variadas e chamam a atenção por sua diversidade; suas cores variam do vermelho ao azul claro. A forma de vida também varia entre anêmonas e corais.

A diversidade de formas e cores do filo Cnidaria. Nesta imagem vemos uma variedade de formas de corais. Fonte: Jan Mallander/Pixabay.



Os cnidários são organismos simples, porém um pouco mais complexos do que os poríferos. Esses animais apresentam duas formas corporais básicas: a forma medusóide e a forma polipóide. Mas como eles vivem no ambiente marinho? Como são estimulados por esse ambiente? Como se movem, se é que fazem isso? Como se alimentam? Este artigo revelará o funcionamento, ou seja a fisiologia, de um dos organismos mais antigos do nosso planeta.


Fotografias de dois cnidários representando as formas de pólipo e de medusa. À esquerda vemos um pólipo de cnidário de coloração roseada preso ao substrato rochoso de coloração amarronzada. À direita vemos uma medusa de coloração amarelada com tentáculos coloridos em formato redondo de coloração rocha nadando em águas claras.

Fotografias das duas formas encontradas no grupo dos cnidários: pólipo (A) e medusa (B). Fonte: (A) Zbigniew Bosek/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0), (B) Wrda/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).



OS CNIDÁRIOS TÊM ESQUELETO?


Ilustração de 8 formas distintas de cnidários coloniais (que apresenta uma estrutura oval e vários tentáculos ao redor da região oral), cnidários medusoides, cnidários sésseis, como pólipos de corais e anêmonas-do-mar.

Ilustração da diversidade de formas de cnidários. Será que você consegue identificar os grupos de cnidários nessas ilustrações? Aqui são encontradas as formas polipóides e medusóides. Fonte: © 2021 Lucas Rodrigues da Silva e Filipe Guilherme Ramos Costa Neves.



O esqueleto dos cnidários é hidrostático, ou seja, a rigidez dos tecidos dos indivíduos é mantida pela entrada e saída de água do corpo. No entanto, o esqueleto de alguns cnidários é externo e secretado pelas células da epiderme do animal como, por exemplo, os corais pétreos e os hidrocorais, cujo esqueleto externo é constituído de carbonato de cálcio. Essa estrutura (de cada pólipo de coral) é chamada de coralito.


Os corais são cnidários sésseis, ou seja, estão fixos aos substratos. Esses animais vivem em simbiose com alguns dinoflagelados chamados zooxantelas, imprescindíveis para a sobrevivência do animal. As zooxantelas funcionam como fonte de carbono e nutrientes para o pólipo, que, em contrapartida, oferece à zooxantela proteção e outros nutrientes para sua produtividade. Portanto, os corais zooxantelados são encontrados em regiões rasas do oceano, onde há luz.



DIVERSIDADE DE MOVIMENTOS


Ilustração de dois movimentos em cnidários, o movimento medusoide e o movimento polipoide. Na parte superior, existe uma sequência de três medusas em três movimentos. No primeiro, a medusa relaxa seus tentáculos abrindo-o em um movimento que os eleva. No segundo, os tentáculos descem e no terceiro os tentáculos descem abruptamente deslocando a medusa para cima. Na parte inferior, existe uma sequência de cinco pólipos em quatro movimentos. O primeiro pende seus tentáculos para baixo até que toquem o sedimento. Assim, ele se desprende do substrato e fica com o corpo voltado para baixo, pendendo novamente sua região posterior até esta tocar o sedimento. O pólipo então desprende seus tentáculos até ficar com o corpo em seu estado natural, voltado para cima. Esse último movimento se assemelha a uma cambalhota realizada pelo estágio polipoide de um cnidário.

Dois movimentos que podem ser realizados pelo estágio medusoide e polipoide de um cnidário. Fonte: © 2023 Filipe Guilherme Ramos Costa Neves.



O filo Cnidaria realiza uma diversidade de movimentos dependendo do seu estágio de vida. As larvas plânulas tanto utilizam seus cílios quanto rastejam no sedimento. Os pólipos podem rastejar no substrato ao contrair dos músculos de seu corpo. Por exemplo, anêmonas podem nadar e flutuar com o auxílio de bolhas de gás que produzem. Já as formas medusóides nadam contraindo os músculos da mesogléia impulsionando o seu corpo. O interessante é que algumas medusas nadam continuamente, enquanto outras nadam até a superfície e se deixam afundar lentamente. Isso não é incrível? Quanta diversidade de movimentos!



OS CNIDÁRIOS SÃO CAPAZES DE PERCEBER ESTÍMULOS


O sistema nervoso desses organismos é descentralizado e difuso, ou seja, não há centros nervosos e, portanto, o indivíduo percebe os estímulos de uma parte em todo o corpo. Em outras palavras, se um cnidário tocar um crustáceo com o seu tentáculo, todo o corpo do cnidário perceberá esse toque. No entanto, as células nervosas são mais encontradas na região oral, nos tentáculos e no disco pedal (no caso dos pólipos).



ELES SE ALIMENTAM TAMBÉM!


Ilustração das formas medusoide e polipoide demonstrando sua estrutura interna em corte longitudinal. Externamente há uma estrutura colorida em vermelho, que representa a exoderme. Internamente há uma estrutura em azul, que representa a endoderme. Essa endoderme reveste uma cavidade que está colorida em tom claro que é a cavidade gastrovascular. Entre a exoderme e a endoderme há uma região colorida em cinza, que representa a mesogléia.

Estrutura interna das duas formas de cnidários: medusa e pólipo. A estrutura em vermelho é a exoderme, que reveste o corpo desses organismos. A estrutura em azul é a endoderme, que reveste a cavidade gastrovascular (em tom mais claro). A região em cinza é a mesogléia, que é a região entre a exoderme e a endoderme. Fonte: Philcha/Wikimedia Commons (CC0).



Os cnidários são carnívoros e é com o auxílio dos tentáculos que eles capturam o alimento. Eles possuem células urticantes (cnidócitos) com toxina que é injetada na presa e logo é paralisada e transferida à boca do cnidário com o auxílio dos nematocistos. Esses nematocistos são estruturas dos cnidócitos que são disparados quando os tentáculos são tocados.


Ilustração de duas células chamadas cnidócitos, em que à esquerda está a primeira célula com uma estrutura em forma de chicote enrolado no interior da célula. À direita o chicote está liberado da célula (forma disparada) onde se vê espinhos na base do chicote.

Ilustração de dois cnidócitos: nematocisto em estado de repouso (à esquerda) e disparado (à direita). Fonte: © 2021 Lucas Rodrigues da Silva e Filipe Guilherme Ramos Costa Neves.



Após a ingestão do alimento, a digestão se inicia. O alimento é digerido tanto na cavidade gastrovascular (digestão extracelular) quanto nas células dessa cavidade (digestão intracelular). As contrações do corpo e os movimentos realizados pelo animal auxiliam na digestão.



CNIDÁRIOS RESPIRAM E FAZEM XIXI?


Eles precisam de gases para realizar seus processos bioquímicos como, por exemplo, a respiração celular. A troca gasosa ocorre pelas células da superfície corporal, que transferem os gases por difusão para as demais células. A circulação dos fluidos no corpo do animal ocorre principalmente na cavidade gastrovascular, mas também pelas contrações musculares e batimentos ciliares de suas células.


Como todos os animais, os cnidários precisam realizar a excreção, que ocorre pela cavidade gastrovascular e boca. Sendo assim, a boca funciona tanto para ingestão de alimento quanto para a excreção.



OS CNIDÁRIOS E SEUS DESCENDENTES


A fim de perpetuar suas espécies, os cnidários (como todos os seres vivos), realizam a reprodução. A maioria dos indivíduos do grupo são dióicos, ou seja, possuem sexos separados. Porém algumas espécies não possuem sexo definido como as do grupo dos antozoários.


Eles também se reproduzem assexuadamente, realizando tanto o brotamento quanto a fissão. Vale ressaltar que esses animais têm uma grande capacidade de regeneração pois apresentam células intersticiais não diferenciadas, capazes de se tornarem qualquer célula conforme a necessidade do organismo.

Ilustração de um cnidário polipoide realizando o brotamento. O broto, que é um pólipo menor, está ainda preso ao corpo do pólipo maior à direita e mais embaixo.

Brotamento em um cnidário polipoide. Fonte: DBCLS/Wikimedia Commons (CC BY 4.0).



OS CNIDÁRIOS SÃO MUITO IMPORTANTES!


Os cnidários são predadores, controlando as populações de suas presas. Esse controle não deixa que tais populações aumentem drasticamente, o que pode trazer prejuízos ao ecossistema marinho. De outro modo, eles servem de alimento para as tartarugas marinhas, que em contrapartida controlam as populações dos cnidários.


Ao serem formas polipóides sésseis, os corais são construtores de estruturas carbonáticas: os recifes. Nesses ambientes crescem algas e plantas que são alimento para uma imensa diversidade marinha. Os recifes de corais servem de hábitat para um número significativo de espécies marinhas, sendo inclusive locais de reprodução de muitas outras espécies. Graças aos corais construtores, há no ambiente marinho esse oásis, onde há alimento em abundância e locais de proteção.


Portanto, o filo Cnidaria apresenta uma diversidade de formas e funções incríveis, que significou muito na evolução desse grupo e sua grande adaptação ao ambiente. Esses animais são, assim, grandes vencedores na história da vida no nosso planeta. Mas será que ainda conseguirão vencer em um oceano que cada vez mais se torna afetado pelas populações humanas?




Bibliografia


MORANDINI, A. C. & STAMPAR, S. N. Capítulo 8: Cnidaria, Seção A e B, p. 201-252. In: FRANSOZO, A. & NEGREIROS-FRANSOZO, M. L. Zoologia dos Invertebrados. 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017.


BRUSCA, R. C.; MOORE, W. & SHUSTER, S. M. Capítulo 7: Filo Cnidaria. Anêmonas, Corais, Medusas e seus Parentes. In: BRUSCA, R. C.; MOORE, W.; SHUSTER, S. M. Invertebrados. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2018.















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