top of page

Encalhe de baleias: quais são as causas e o que fazer

Atualizado: 5 de jul.

Autores: Camila Santiago, Raphaela Alt Müller, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró


Fotografia de uma baleia jubarte abrindo a boca e suas barbatanas estão à mostra. Ao redor dela estão algumas aves marinhas se alimentando.

Baleia-jubarte se alimentando. Em destaque, as suas barbatanas (seta vermelha). Fonte: Lente desconhecida (CC0).



Sendo os maiores animais viventes, as baleias atraem a atenção das pessoas, seja pelo seu gigantesco tamanho, pelos seus hábitos migratórios ou pela extrema inteligência dos indivíduos da ordem Cetaceae, à qual pertencem. Neste artigo vamos entender sobre a classificação das baleias e as causas que as levam a encalhar nas praias. Exploraremos também o que acontece quando o maior mamífero que habita a Terra encalha e como devemos agir quando nos depararmos com o animal encalhado.



SOBRE AS BALEIAS


Inicialmente, precisamos entender que, ao contrário do que algumas pessoas podem pensar, as baleias não são peixes! Apesar de pertencerem ao mesmo filo - o filo dos cordados - as baleias pertencem à classe dos mamíferos e à ordem Cetacea, enquanto os peixes podem ser da classe dos elasmobrânquios (peixes cartilaginosos) ou dos teleósteos (peixes ósseos).


Na ordem dos cetáceos, além das baleias, encontramos os golfinhos e as orcas. Essa ordem se divide em duas subordens: Odontoceti (com dentes) e Mysticeti (sem dentes). As baleias pertencem à subordem dos misticetos, pois não possuem dentes, e sim barbatanas. Saiba mais sobre os cetáceos aqui.


Elas são grandes filtradoras que se alimentam principalmente de krill, um organismo zooplanctônico, semelhante a um camarão. Aproveitamos para derrubar mais um mito de que as orcas, conhecidas popularmente como “baleias-assassinas”, não são ‘baleias verdadeiras’, pois possuem dentes.


Fotografia de uma baleia branca em posição de decúbito dorsal com manchas amareladas e pretas próximo às pregas totalmente encalhada na beira da praia, com as ondas batendo na altura aproximada da canela de um adulto.

Corpo de baleia-jubarte morta encalhada na Praia do Arpoador, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. Fonte: Tomaz Silva/Agência Brasil (CC BY 2.0).



Agora que já sabemos a classificação das baleias dentro do Reino Animal, vamos entender alguns dos motivos que as levam a encalhar.



A CAUSA DOS ENCALHES


É muito difícil determinar exatamente a causa do encalhe de uma baleia, pois mais de um fator pode estar relacionado ao acidente. As causas que levam as baleias ao encalhe são inúmeras. Alguns dos diversos fatores que podemos citar são: causas naturais, a ação do homem, a topografia do oceano e, até a poluição sonora!


As causas naturais mais comuns de encalhe acontecem quando a baleia adoece, se machuca ou envelhece. Nesses casos, o animal fica debilitado, com a capacidade de locomoção reduzida, o que faz com que ele seja levado pela maré e correntes marítimas, indo parar nas praias.


Já sobre as ações do homem, os principais fatores são a pesca, a poluição e a colisão com embarcações. Um estudo realizado no noroeste do Atlântico, próximo ao Canadá, analisou os dados de mortalidade de oito espécies de baleias entre os anos de 1970 e 2009 e concluiu que, dos casos em que os pesquisadores conseguiram determinar a causa da morte, 22% das baleias encalhadas colidiram anteriormente com grandes embarcações, enquanto 42% delas ficaram presas em redes e por isso se feriram, causando o encalhe.


Fotografia de uma exposição caudal de uma baleia e ao fundo uma grande embarcação cargueira, com o casco nas cores vermelho e azul e o passadiço branco.

Baleia se aproximando de uma grande embarcação em movimento. Fonte: Whale Center of New England/Flickr (CC BY 2.0).



A formação geográfica da região oceânica também pode causar o encalhe. Isso pode acontecer devido à topografia somada às variações da maré, que podem levar o animal a nadar até regiões de águas rasas quando a maré está alta. Quando a maré baixa, o animal não consegue sair da região rasa a tempo, ficando encalhado.


Outro fator interessante é a poluição sonora no oceano. Isso pode ser um aspecto problemático, pois as baleias se localizam e se comunicam por meio de ondas sonoras. Assim, o ruído das embarcações pode interferir nas habilidades das baleias, causando desorientação ao animal e fazendo com que ele nade em direção oposta ao oceano aberto, indo parar em regiões rasas, causando o encalhe. Para saber mais, leia nosso artigo sobre a ameaça dos ruídos ao oceano.



E AGORA, O QUE FAZER?


Para que a informação do encalhe de baleias chegue ao conhecimento dos centros de pesquisas, é importante que seja feita a divulgação desses institutos para os moradores locais da costa, profissionais da área de turismo e para os turistas, com o intuito de formar uma rede de informantes e, quando houver o registro da ocorrência de um encalhe, as pessoas saibam a quem recorrer.


A informação é crucial, pois quando uma baleia encalha, inicia-se uma corrida contra o tempo na tentativa de salvar o animal. A grande anatomia das baleias permite que ela flutue na água. Estando encalhada, todos os seus órgãos internos ficam comprimidos pela força da gravidade, e acabam sendo esmagados pelo grande peso do corpo do animal. Com isso, toxinas são liberadas e invadem a circulação sanguínea, intoxicando o animal.


Ao se deparar com uma baleia encalhada, se ela ainda estiver viva, não tente mover o animal ou devolvê-lo para a água! Ela pode estar gravemente machucada, doente ou debilitada a ponto de não conseguir voltar para o seu hábitat natural e devolvê-la para o mar só faz aumentar as chances de ela não sobreviver, já que se torna um alvo fácil de predadores. Ligue imediatamente para autoridades locais: projetos de resgate e reabilitação, bombeiros, polícia ambiental, pois os profissionais habilitados saberão como agir e o que fazer.


O animal deve ser mantido úmido, em posição decúbito ventral (barriga voltada para baixo) e coberto para evitar queimaduras de sol. É importante também que as vias aéreas fiquem livres para o animal poder respirar. No entanto, ainda assim as taxas de sobrevivência são baixas.


Quando os especialistas em resgate e reabilitação chegam ao local do encalhe, é realizado um estudo do caso, que se inicia pela avaliação do animal e identificação da espécie. Se o animal estiver vivo, deve-se decidir se ele será resgatado ou reabilitado; se ele estiver debilitado demais, se será necessário sacrificá-lo. No caso de resgate ou reabilitação, deve-se decidir quais serão os métodos utilizados.


Se o animal estiver sem vida, é feita uma necropsia no local para que se estude a causa do encalhe e da morte do indivíduo. Após a análise, a equipe entra em contato com apoio local que auxiliará na destinação e deslocamento da carcaça.


Mesmo neste cenário em que uma baleia encalhada venha a óbito, podemos tirar algo de bom. Os encalhes proporcionam aos cientistas a aproximação e o estudo desses animais, o que contribui para a compreensão de seus hábitos. O estudo sobre a forma com que o animal morreu pode ajudar a entender também como ele viveu, do que se alimentou, como se reproduziu e por onde passou.


Proteger e conservar as baleias vai além de um ato de consciência ambiental, já que um estudo recente realizado pelo Fundo Monetário Internacional concluiu que as baleias são grandes responsáveis pela captação do carbono da atmosfera. Mas isso é assunto para outro artigo.




Bibliografia


CASTRO, P.; HUBER, M. E. Biologia Marinha. 8. ed. Porto Alegre: Amgh, 2012.


CHAMI, R. et al. NATURE’S SOLUTION TO CLIMATE CHANGE: a strategy to protect whales can limit greenhouse gases and global warming. A strategy to protect whales can limit greenhouse gases and global warming. 2019. Disponível em: https://www.imf.org/Publications/fandd/issues/2019/12/natures-solution-to-climate-change-chami. Acesso em: 12 jul. 2023.


GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.


MACHADO, J. S.; SANCHES, L. T. Os impactos do tráfego de embarcações em misticetos. Revista Multidisciplinar de Educação e Meio Ambiente, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 1–7, 2022. DOI: 10.51189/rema/2268. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/355347027_OS_IMPACTOS_DO_TRAFEGO_DE_EMBARCACOES_EM_MISTICETOS. Acesso em: 12 jul. 2023.


MEDEIROS, P. I. A. P. Encalhes de cetáceos ocorridos no período de 1984 a 2005 no litoral do Rio Grande do Norte, Brasil. 2006. 67 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Biologia Aquática, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Ufrn), Rio Grande do Norte, 2006. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/12504/1/EcomorfologiaDezEsp%C3%A9cies_Medeiros_2006.pdf. Acesso em: 12 jul. 2023.


YAMAMOTO, J. M. Encalhes de baleias-verdadeiras, Mysticeti, no sudeste e sul do Brasil. 2023. 41 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual Paulista (Unesp), São Vicente, 2023. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/239547/yamamoto_jmf_tcc_svic.pdf?sequence=4&isAllowed=y. Acesso em: 12 jul. 2023.









273 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Faça parte!

Contribua com o Projeto Bióicos para a continuidade de nossas produções voluntárias, como: Revista, Poscast, Youtube e Instagram

Assine a lista e receba as novidades!

Obrigado pelo envio! Verifique seu e-mail e marque-nos como contato seguro!

bottom of page