Autores: Camila Santiago, Raphaela A. Duarte Silveira, Raphaela Alt Müller e Douglas F. Peiró
Piolho-de-baleia ciamídeo, artrópode da família Cyamidae. Fonte: cedido gentilmente por TUNES, Pedro Henrique - mestrando em Zoologia na UFMG.
Vimos anteriormente que, por mais triste que seja, o encalhe de grandes animais marinhos podem nos ajudar a entender muito sobre os hábitos da sua vida. Para saber mais sobre encalhe de baleia, leia o nosso artigo. Ao investigar encalhes, um dos focos de estudo são os parasitas que residem nesses animais, oferecendo uma rica fonte de informações sobre a sua biologia e ecologia. Neste artigo conheceremos um pouco sobre o piolho-de-baleia, um artrópode que parasita os cetáceos (baleia, golfinhos, cachalotes). Porém, nem sempre essa relação será de parasitismo e ao fim do artigo você entenderá o porquê.
PIOLHO-DE-BALEIA
Você já imaginou o que os seres humanos e as baleias podem ter de semelhante, além das características em comum da evolução, como membros superiores desenvolvidos, respiração pulmonar e cuidado parental? Piolho. Sim, baleias podem ter piolhos, e é sobre isso que falaremos hoje.
Os piolhos presentes nos cetáceos não são os mesmos que atormentam as nossas cabeças, mas causam coceiras e incômodos da mesma forma, habitando geralmente as regiões dos genitais, olhos, narinas ou ferimentos.
Infestação de piolho-de-baleia na região dos olhos. Fonte: cedido gentilmente por TUNES, Pedro Henrique - mestrando em Zoologia na UFMG.
Também conhecido como piolho-de-baleia, os ciamídeos pertencem ao filo Arthropoda, sendo o maior filo de animais, e está inserida dentro do subfilo dos crustáceos, o mesmo grupo que pertence os caranguejos, lagostas e camarões.
Os ciamídeos não possuem habilidade de nado e passam a vida toda no mesmo cetáceo, pegando carona por todo o oceano, botando os ovos que eclodem e as larvas se desenvolvem no hospedeiro. Por essa razão, eles são conhecidos como seres cosmopolitas, ou seja, estão presentes em todas as bacias oceânicas. A única forma de o piolho sair de um animal e ir para o outro é quando há o encontro entre dois grandes animais e eles se encostam. Só assim o piolho consegue ir caminhando e migrar de hospedeiro. A forma de contágio é bem semelhante com a dos piolhos dos humanos.
Outro fato interessante é que geralmente cada espécie de cetáceo serve como hospedeiro para um tipo de piolho, como se cada baleia tivesse um tipo de piolho diferente. Isso significa, por exemplo, que o piolho que habita as baleias-jubartes é de espécie diferente do que habita as baleias-franca.
O tamanho de um piolho-de-baleia, que pode chegar a 25 milímetros. Fonte: cedido gentilmente por TUNES, Pedro Henrique - mestrando em Zoologia na UFMG.
O tamanho do piolho-de-baleia pode chegar a 2,5 centímetros. O seu tamanho representa até 50 vezes o tamanho de um piolho que habita a cabeça humana. A estrutura do corpo do piolho é composta de 5 pares de pernas, que possuem uma espécie de gancho. Esse gancho é utilizado para fixação ao corpo do cetáceo durante a movimentação, principalmente para não se desgrudar quando os animais realizam os grandes mergulhos a grandes profundidades.
O QUANTO INCOMODA
Uma semelhança aos piolhos que hospedam os humanos é o tanto que eles incomodam os hospedeiros. Uma única baleia pode ser hospedada por mais de 7.500 piolhos, que viverão associados às cracas presas no animal.
Baleia-jubarte saltando. Fonte: Zorankovacevic/Wikimedia Commons (CC-BY-SA-2.5).
Uma forma de o animal se livrar desses parasitas é através do salto. Durante o movimento do salto, muitos animais acabam se desprendendo da pele com o impacto do corpo do cetáceo na água. Com isso, podem se livrar de centenas de piolhos que talvez os incomode. Além dos saltos serem um espetáculo à parte, não é mesmo?
TALVEZ NÃO SEJA PARASITA
Apesar de tratarmos o piolho-de-baleia como parasita, estudos indicam que talvez a relação entre esses seres e os cetáceos não seja tão negativa assim. A menos que o animal hospedeiro esteja doente, os piolhos não causarão danos tão sérios à sua saúde.
Para entendermos a razão pela qual talvez os piolhos não sejam considerados parasitas, é importante entendermos o conceito de parasitismo e epibiose. Quando há o parasitismo, ocorre uma forma de predação, ocasião em que o ser parasita suga os nutrientes do hospedeiro, porém não mata a sua fonte de alimento. Já na epibiose, o organismo que se alimenta do outro más não depende única e exclusivamente dele para sua sobrevivência.
Quer saber mais sobre as interações simbióticas e como elas ocorrem no mar? Leia nosso artigo.
No caso da relação entre os piolhos-de-baleia e os cetáceos, os parasitas irão se alimentar de tecido morto da pele e detritos encontrados na água. Assim, a relação entre eles pode acontecer de uma forma favorável para as baleias, ocasião em que os piolhos poderão realizar uma espécie de limpeza da pele e detritos de outros materiais inconvenientes.
Assim, alguns especialistas entendem que, ao invés de parasitismo, a relação entre os piolhos-de-baleia e os cetáceos seria uma relação de mutualismo.
Pênis de baleia-macho (coloração clara) encalhada infestado de parasitas e cracas na sua base. Fonte: cedido gentilmente por TUNES, Pedro Henrique - mestrando em Zoologia na UFMG.
Apesar deste entendimento, nada altera o fato de que a presença dos piolhos nas baleias causam irritabilidade e coceira, principalmente quando se encontram em regiões sensíveis, como a região anal e olhos.
A IMPORTÂNCIA DESSES ANIMAIS
E qual seria a importância de estudar esses animais que causam tanto incômodo aos cetáceos? A importância de ser realizado os estudos desses animais é poder entender a relação entre populações distintas de baleias de uma determinada área, tendo em vista que esses “parasitas” podem ser utilizados como marcador biológico que indicarão as rotas de migração e locais por onde os animais se alimentaram e, também, o seu estado de saúde.
É importante salientarmos que esses piolhos-de-baleia não fazem mal à saúde humana e não podem sobreviver fora do seu meio ambiente natural. Ou seja, se não estiver alojado em um cetáceo, ele não consegue sobreviver.
Bibliografia
ARAI, T. I. Análise cladística de Cyamidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Amphipoda) com ênfase na distribuição e variabilidade de Cyamus boopis Lütken, 1870 /. 2017. 192 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), UFRJ, Rio de Janeiro, 2017
CASTRO, P.; HUBER, M. E. Biologia Marinha. 8. ed. Porto Alegre: Amgh, 2012.
TUNES, P. H. Direitos de imagem - mestrando em Zoologia na UFMG.
Comments