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Fragatas: as piratas do mar

Autores: Maria Clara S. Bicharra, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró



Foto de uma Fragata macho sobre os galhos de uma árvore com o saco gular vermelho inflado para atrair as fêmeas durante o período reprodutivo.

Fragata macho durante o período reprodutivo com o saco gular vermelho inflado para atrair as fêmeas. Fonte: MacraegiWikimedia Commons (CC BY SA 2.0).



AVES MARINHAS


A vida no mar apresenta diversos desafios para as aves marinhas, desde a busca por alimento, procura de abrigo até as dificuldades na época de acasalamento. As aves marinhas são definidas como aquelas que, além de viverem quase o tempo todo nas regiões oceânicas e próximas à costa, também dependem dele para obter alimento! Esse grupo representa cerca de 3% do total de espécies de aves que existem hoje, e para viver nesse ambiente, muitas vezes hostil, essas aves possuem diversas características únicas, que lhes permite sobreviver no ambiente marinho.


As fragatas são aves exclusivamente marinhas. Das cinco espécies de sua família Fregatidae, quatro delas ocorrem em ilhas e na costa do Brasil, sendo a espécie mais comum a Fregata magnificens. Conhecida popularmente também por tesourão, pirata-do-mar, ladrão-do-mar e guarapirá, as fragatas fazem parte de um grupo de aves marinhas que possuem comportamento muito diferente das demais.


Foto de uma fragata fêmea com as asas abertas em voo livre no céu azul.

Fragata fêmea em voo livre. Fonte: Ron Knight/Wikimedia Commons (CC BY 2.0).



A Fregata magnificens está distribuída na costa de toda a América, no Oceano Atlântico: desde o sul do Brasil até o sul dos Estados Unidos, e na costa do Pacífico: desde o Equador até o México. Aqui no Brasil, a fragata possui suas principais colônias no Arquipélago de Alcatrazes (São Paulo) e nas ilhas Cagarras e Ilha Redonda (Rio de Janeiro), além do arquipélago de Abrolhos (Bahia) e Fernando de Noronha.


Uma pesquisa realizada pelo projeto Ilhas do Rio, em Ilha Redonda, mostrou que essa é a ilha com a segunda maior colônia reprodutiva de fragatas Fregata magnificens da costa brasileira, perdendo somente para o Arquipélago de Alcatrazes, o qual é o lugar com o maior número de ninhos para essa espécie na América Latina, com 6.000 indivíduos durante os meses de pico reprodutivo, junho e julho.



REPRODUÇÃO


Apesar de algumas espécies estarem muito bem adaptadas ao ambiente marinho, sendo capazes de permanecer em alto mar, às vezes por meses inteiros, todas precisam buscar a terra firme para descansar e se reproduzir. Por esse motivo as ilhas são importantes colônias reprodutivas para essas aves, pois estão mais isoladas e afastadas da costa. Assim, são um importante habitat e um ambiente muito propício para muitas espécies de aves marinhas que constroem seus ninhos no solo.


Os machos e fêmeas dessa espécie apresentam dimorfismo sexual, ou seja, apresentam características físicas perceptíveis que os diferenciam. Como principal característica a fêmea possui a cor preta em suas penas, exceto pelo peito, que é branco. Já o macho possui todas as suas penas pretas, mas o que o caracteriza é a presença do saco gular vermelho no pescoço, que é utilizado durante o período reprodutivo no ritual de acasalamento.


(A) Fragata macho, (B) fragata fêmea em voo livre, (C) fragata juvenil e (D) fragata macho cuidando do seu filhote no ninho. Fonte: (A) Lip Kee/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0), (B) David Brossard/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0), (C) C T Johansson/Wikimedia Commons (CC BY SA 3.0) e (D) Murray Foubister/Wikimedia Commons (CC BY SA 2.0).



Os ninhos geralmente são construídos sobre árvores ou grandes arbustos de forma muito simples, com galhos e gravetos. As fragatas depositam somente um ovo, que é incubado em torno de 40 a 50 dias, onde o macho e a fêmea se revezam para fazer esse trabalho. Após o nascimento, o filhote tem toda a plumagem branca, e recebe os cuidados dos pais até os três meses de idade. Depois desse período o macho abandona o ninho e a fêmea passa a cuidar e alimentar o filhote sozinha, até um ano de idade, na fase juvenil.


Casal de fragatas no período reprodutivo monitorando seu ninho. Fonte: Maros/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).

PIRATAS DO MAR


Com asas longas e cauda bifurcada, as fragatas são aves extremamente adaptadas ao voo. Contudo, seus pés possuem membranas interdigitais reduzidas, o que dificulta seu deslocamento e pouso no solo, pousando principalmente em galhos e árvores. Além disso, elas também são aves marinhas que não conseguem mergulhar ou pousar na água, porque suas penas não possuem uma boa impermeabilização, o que impossibilita o mergulho em busca de alimento.


E por não conseguirem mergulhar como as outras aves marinhas, elas desenvolveram uma estratégia diferente para conseguir seu alimento. Para isso elas roubam o alimento de outras aves marinhas, pegando os peixes que são capturados por elas e atacando outros indivíduos até que eles regurgitem o peixe recém-pescado, ou o que ainda está sendo segurado pelo bico, podendo fazer isso com aves que estão no solo ou em pleno voo. Esse comportamento característico dessa espécie é chamado de cleptoparasitismo, e por esse motivo, elas são conhecidas como piratas do mar.


Apesar disso, seu bico, com a extremidade em forma de gancho, permite que elas também consigam se alimentar capturando os animais que ficam bem próximos à superfície da água, fazendo voos rasantes para pescar seu alimento, que pode ser peixes, lulas e filhotes de tartarugas.


(A) Alt-txt: Foto de uma fragata juvenil praticando o cleptoparasitismo durante o voo. Na foto é possível ver a fragata perseguindo uma outra ave menor que segura o alimento em seu bico. (B) Alt-txt: Foto de uma fragata fêmea pescando um peixe que está bem próximo a superfície da água durante o voo.

(A) Fragata juvenil praticando cleptoparasitismo durante voo e (B) fragata fêmea pescando peixe na superfície durante voo. Fonte: (A) Gary_leavens/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0) e (B) Peterwchen/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



Ainda, sabe-se que as fragatas são as aves que possuem a maior superfície de asa por unidade de peso, podendo chegar a ter mais 2 metros de envergadura nas asas e pesar uma média de somente 1,5 kg. Isso lhes permite planar, sem a necessidade de bater as asas o tempo todo. Assim, elas conseguem voar por muito tempo em busca de alimento, podendo percorrer distâncias maiores que 200 km.


Essas são só algumas das razões que fazem com que as fragatas sejam uma das aves marinhas mais interessantes. Sendo animais tão complexos e com comportamentos tão particulares, esses animais são admirados e estudados no mundo todo.




Bibliografia


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PORT, D.; BRANCO, J. O.; DE ALVAREZ, C. E.; FISCH, F. Observations on endangered frigatebirds (Fregata ariel trinitatis and F. minor nicolli, Suliformes: Fregatidae) at Trindade Island, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, v. 11, n. 1, p. 87-92. 2016. Disponível em: http://www.avesmarinhas.com.br/Fragatas%20amea%E7adas%20da%20Trindade.pdf. Acesso em: 13 set. 2023


SCHREIBER, E. A.; BURGER, J. Biology of Marine Birds. CRC Marine Biology Series. 85p. 2002. Disponível em: http://manatipr.org/wp-content/uploads/2019/08/Biology_of_Marine_BirdsChapters.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.


WikiAves. Fragata. 2023. Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/fragata. Acesso em: 1 set. 2023.











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