Autores: Luane Rodrigues, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
Baleia-jubarte saltando no Santuário Stellwagen Bank, na Baía de Massachusetts. Fonte: Whit Welles/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).
As baleias são os maiores animais do planeta Terra e habitam o ambiente oceânico há aproximadamente 50 milhões de anos, de acordo com os primeiros registros fósseis encontrados. São mamíferos, possuem o corpo alongado, evolutivamente perderam os pelos, desenvolveram nadadeiras e uma camada grossa de gordura permite manter sua temperatura corporal.
Pinturas rupestres indicam que a caça as baleias aconteceu há aproximadamente oito milhões de anos, sendo que provavelmente, naquela época, só eram caçados animais que encalharam ou passaram muito próximos à costa. A caça, ou baleação, aconteceu em larga escala no século IX, quando eram perseguidas em botes e utilizavam-se lanças e arpões para a captura.
A partir do século XIX iniciou-se o uso de navios baleeiros, mas o abate ainda ocorria por meio de arpões manuais e as baleias eram abatidas para o consumo da carne e a utilização da gordura como combustível para a iluminação. No ano de 1920, desenvolveu-se o uso do arpão automático, que utiliza um explosivo na ponta, navios-fábrica também passaram a ser utilizados e já processavam a baleia morta para então produzir os itens comercializáveis. Em 1946, a Comissão Internacional Baleeira (CIB) foi criada e sugeria que houvesse um rodízio na caça das baleias, ou seja, à medida que uma população diminuía, deveria se explorar outra.
Em 1986, a CIB, iniciou um projeto para cessar a caça exploratória de baleias e desde então vem gerando conflitos. Alguns países utilizam brechas para continuar com essa prática, como por exemplo Japão, Noruega e Islândia, que são responsáveis pela morte de 2.500 baleias por ano.
Por muito tempo esses animais foram considerados sem importância ecológica para o oceano, mas essa afirmação é incorreta. Atualmente existem 1,3 milhões de baleias nos oceanos, se as populações pudessem se estruturar ao que eram no período anterior à caça, poderíamos ter cerca de 4 a 5 milhões de indivíduos. Então, qual a importância ecológica desses grandes animais?
AS BALEIAS E SUA IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA
Primeiramente, as baleias acumulam grande quantidade de carbono, afirma estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), no qual economistas demonstram que esses animais são capazes de armazenar 1,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, um número muito acima das emissões de carbono por ano no Brasil, ou seja, ajudam a controlar o aquecimento global.
Baleia morta em uma praia do Pacífico. Fonte: Anita Hart/Flickr (CC BY-SA 2.0).
Após a morte das baleias, suas carcaças se depositam no assoalho oceânico, levando consigo o carbono, acumulado nas partes moles e ossos de seu corpo. A carne serve de alimento para diversas espécies e a carcaça pode ser utilizada como abrigo para outros animais, aumentando assim a produtividade local. Sendo assim, sem as baleias, grande parte dos ciclos ecológicos do oceano estariam em colapso.
Esses animais são espécies-chave, ou seja, se são retirados de um ecossistema, diversas outras espécies deixariam de existir. As baleias são predadores de topo de cadeia, não são normalmente predadas por outros animais e se alimentam de uma grande variedade de espécies, controlando, assim, as populações, e evitando que a biodiversidade seja afetada. As fezes desses animais também são importantes para o ecossistema, porque fertilizam o ambiente, propiciando o crescimento de diversas espécies, como o plâncton; esses dejetos são ricos em ferro, podendo ser até 10 milhões de vezes maior do que no ambiente marinho, favorecendo o processo de fotossíntese realizada pelo fitoplâncton. O ferro é importante nutriente para o fitoplâncton, importantes por realizarem o processo de fotossíntese, atuando como removedores de CO2 da atmosfera. Sabe-se que o oceano Antártico é rico em nitrogênio e pobre em ferro, prejudicando a proliferação do fitoplâncton. Como sugestão de vídeo sobre o tema: Ash de Vos: Por que deveríamos nos importar com o cocô das baleias.
Sendo assim, por esses animais acumularem a grande quantidade de carbono descrita acima, é importante que existam propostas e ações que estimulem a conservação dessas espécies. Já que as baleias apresentam um ciclo longo de reprodução, gerando apenas um filhote por gestação. Por exemplo, as jubartes (Megaptera novaeangliae) têm um filhote por ano, enquanto as francas (Eubalaena australis) têm um filhote a cada três anos, fazendo com que as populações tenham um crescimento lento, o que faz com que a população não consiga se restabelecer rapidamente após algum evento, como a caça excessiva.
O relatório emitido pelo FMI, demonstra a importante ligação desses animais com as funções ecológicas e com os outros seres do planeta Terra. Porém os números populacionais das baleias preocupam.
Compreendendo o papel ecológico desses animais e sua função como espécies-chave é importante que ações de conservação sejam desenvolvidas visando o aumento populacional das baleias, para que, também, os ecossistemas marinhos possam manter-se equilibrados e com sua biodiversidade proporcional.
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