Autores: Raphaela Alt Müller, Raphaela A. Duarte Silveira, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves e Douglas F. Peiró
Lontra-de-rio-norte-americana Lontra canadensis no Parque Zoológico Miller. Fonte: Heather Paul/Flickr (CC BY-ND 2.0).
As lontras são animais distribuídos por quase todo o mundo. Elas estão presentes desde a Ásia, Europa, África, até as Américas, incluindo a Argentina e o Brasil e são encontradas em rios, lagos, lagoas, no litoral e até no mar.
Em alguns países, como Japão e Argentina, esses animais estão sendo criados como domésticos, pela sua aparência dócil e amigável. Entretanto, eles são animais selvagens, que não passaram pelo processo de domesticação ao longo da história de vida da espécie e, portanto, podem apresentar comportamento agressivo, principalmente nas épocas de reprodução.
Esses mamíferos da subfamília Lutrinae, da família dos mustelídeos (a mesma família dos furões, doninhas e dos texugos), apresentam cerca de 13 espécies. Todas elas vivem boa parte do seu tempo no ambiente aquático e por isso são consideradas semiaquáticas.
A lontra-neotropical Lontra longicaudis nas águas do Pantanal. Elas são menores do que as lontras-gigantes (ou ariranhas) Pteronura brasiliensis, podem possuir hábitos noturnos e diurnos e possuem a ponta da cauda em formato de remo. Fonte: John Tomsett/Flickr (CC0).
A SUBFAMÍLIA LUTRINAE
As lontras possuem diversas adaptações corporais que lhes permitiram adequação ao ambiente aquático. Exemplos dessas adaptações são a pelagem densa e impermeável que impede o contato da água com a pele, membranas interdigitais nos dedos que auxilia na natação, e uma cauda achatada que também auxilia o nado.
Por serem carnívoras, apresentam dentes afiados para rasgar a carne, principalmente de peixes, e também de pequenos mamíferos, anfíbios, répteis e aves.
No Brasil, encontramos duas espécies de lontras: a lontra-neotropical Lontra longicaudis e a lontra-gigante Pteronura brasiliensis, conhecida também por ariranha. Ambas espécies estão em risco de extinção.
A lontra-neotropical, Lontra longicaudis, também conhecida como lobinho-de-rio, possui cerca de 1,2 metros de comprimento e pode pesar 12 kg. Elas são encontradas na Argentina, Uruguai, México e em todo território brasileiro, exceto nas regiões mais áridas do país devido às características secas da região.
As ariranhas, ou lontra-gigantes, possuem cerca de 1,8 metros de comprimento e podem pesar até 30 kg, sendo consideradas as segundas maiores dentro da família Mustelidae. Elas são encontradas na bacia Amazônica e bacia do pantanal! Além de possuírem capacidade de emitir sons para se comunicarem (vocalização), elas possuem uma característica semelhante à nossa impressão digital, que é uma mancha mais clara na região do pescoço, a qual cada indivíduo possui a sua.
Lontra-gigante Pteronura brasiliensis se alimentando de um peixe-cascudo, no Rio São Lourenço no Mato Grosso. Elas são maiores do que a lontra-neotropical, possuem hábitos diurnos e toda a cauda em formato de remo. Fonte: Bernard Dupont/Flickr (CC BY-SA 2.0).
As lontras brasileiras foram intensamente caçadas no Brasil na década de 60 por causa de sua pelagem. Hoje, a caça destes animais é ilegal, porém a quantidade de indivíduos nunca se recuperou do tempo da caça e elas estão enfrentando outro problema, que é a perda do seu habitat. Portanto, a degradação ambiental ocorre diariamente por ações antrópicas como contaminação de rios, construção de hidrelétricas e se intensifica devido às poucas ações de educação ambiental nas áreas de contato com pescadores, por exemplo.
Outro animal que também sofre com as consequências das ações antrópicas é a lontra-marinha, a única espécie da família Mustelidae que vive na água salgada.
A LONTRA-MARINHA Enhydra lutris
As lontras-do-mar, ou lontras-marinhas, são animais muito sociais e flutuam em grupos, formados por 10 a 100 indivíduos, geralmente do mesmo sexo, como uma “jangada”. Quando estão descansando ou se alimentando, elas costumam se enrolar em algas para evitar que a correnteza as leve e são frequentemente observadas de mãos dadas com outros indivíduos da jangada para evitar a separação.
Lontra-marinha descansando em Morro Bay, na Califórnia, Estados Unidos. Fonte: Mike Baird/Wikimedia Commons (CC BY 2.0).
Elas são consideradas os menores mamíferos carnívoros presentes no mar, mas são maiores em massa corporal dentro da subfamília Lutrinae, em que um adulto macho pesa entre 32 kg e 41 kg enquanto as fêmeas entre 18 kg e 27 kg.
Os grupos geralmente permanecem numa mesma área durante o ano todo, porém, alguns indivíduos, geralmente machos, fazem migrações de longa distância (mais de centenas de quilômetros). Existem três subespécies de lontra-marinha, e elas são separadas devido a sua distribuição geográfica: a lontra-marinha-asiática Enhydra lutris lutris, a lontra-marinha-do-norte Enhydra lutris kenyoni e a lontra-marinha-do-sul Enhydra lutris nereis.
Essas lontras se alimentam de espécies no fundo do oceano ou próximas a ele. Elas são únicas na forma como se alimentam, elas comem peixes e outras presas não bentônicas com o auxílio de objetos duros, bigornas, para ajudar na quebra das conchas de invertebrados próximos à costa. Elas emergem com o alimento, flutuam de costas e colocam um rocha ou concha dura, muitas vezes recuperada do fundo do oceano, em seu lado ventral e a usa como uma bigorna. Segurando a presa entre as patas dianteiras, elas erguem os membros anteriores acima da cabeça, e batem repetidamente a presa contra a bigorna.
Esses mamíferos incríveis podem procurar alimento em torno de 97 metros de profundidade. No entanto, estudos realizados em 2004, usando gravadores de profundidade implantados, indicam uma média de profundidades máximas de forrageamento de 54 m para lontras fêmeas e 82 m para machos, podendo chegar a 100m.
Lontra-marinha nas águas próximas ao Morro Bay, na Califórnia, na costa do Pacífico. Fonte: National Marine Sanctuaries/Flickr (CC BY 2.0).
PERIGO À FRENTE
As lontras-marinhas vivem atualmente na América do Norte e no norte da Ásia, mas antigamente, estes animais ocorriam do Pacífico Norte até o México. No início do século XVIII as populações de lontras-marinhas eram entre 150.000 e 300.000 indivíduos. Em 1700, quando exploradores chegaram ao Alasca, até o ano de 1991, quando foram protegidas pelo Tratado Internacional do Lobo-marinho (International Fur Seal Treaty), as populações foram quase dizimadas pela caça por sua pelagem, sobrando apenas 2000 indivíduos de 13 colônias.
A proibição das caçadas, a conservação e programas de reintrodução nas áreas anteriormente povoadas, fizeram com que estes animais se recuperassem, tendo atualmente (contagens populacionais feitas entre os anos 2000-2018) uma estimativa mundial generalizada de 128.902 indivíduos. Apesar de parecer uma população grande bem próxima da quantidade antes do período de caça, esses animais apresentam atualmente uma distribuição descontínua e desintegrada. Além disso, a associação entre perturbação ambiental antropogênica, poluição por patógenos e o surgimento de doenças infecciosas na vida selvagem, fazem com que eles continuem sendo classificados como espécie em risco de extinção.
A contaminação costeira do ecossistema marinho com o parasita protozoário, Toxoplasma gondii, faz com que cerca de 42% das lontras-marinhas sejam contaminadas por este parasita, segundo um estudo realizado na costa da Califórnia. O protozoário pode levar a uma encefalite causada pelo protozoário, além de doenças cardíacas associadas ao T. gondii. Segundo este estudo, as doenças causadas por parasitas, bactérias ou fungos e doenças sem uma etiologia específica foram as causas de morte em 63,8% das lontras examinadas. A doença parasitária por si só causou a morte em 38,1% das lontras examinadas. Este padrão de mortalidade, observado predominantemente em lontras marinhas do sul juvenis e adultas em idade avançada, tem implicações negativas para a saúde geral e a recuperação desta população.
O maior vilão do oceano somos nós, seres humanos, por isso a importância de chegar o conhecimento para todos, através da educação ambiental e divulgação da ciência. As mudanças ambientais antropogênicas promovem a proliferação de doenças, a falta de tratamento de água ocasiona a presença de patógenos, como o Toxoplasma gondii. Somente através da educação ambiental poderemos ser sensibilizados e adquirir uma consciência mais apurada sobre as nossas ações e como elas impactam todo o meio ambiente.
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