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Noctiluca: o brilho ‘estrelado’ do mar

Autores: Juliana De Lucca, Raphaela A. Duarte Silveira, Raphaela Alt Müller, Douglas F. Peiró


foto de uma praia ao anoitecer, com pontos azuis brilhando na areia e no mar. Também é possível ver o céu estrelado e luzes da cidade e coqueiros ao fundo

Praia iluminada pela presença de organismos luminescentes. Fonte: Kevin Wolf /Unsplash.



Noites estreladas...quem nunca parou para olhar o céu em uma noite sem nuvens, admirando a beleza dos enigmáticos pontinhos de luz das estrelas que se espalham sob o céu escuro? Agora, imagine se deparar com uma imagem parecida com esta, mas ao invés do céu, estamos olhando pro mar! Sim, um mar cheio de pontos luminosos azuis! Apesar de parecer mágica, este é um fenômeno natural que acontece graças a presença de seres marinhos diminutos chamados noctilucas. E não pense que isso está muito distante de nós. No litoral do Brasil este fenômeno é relativamente comum.



NOCTILUCAS: ASPECTOS BIOLÓGICOS


Classificação


O nome científico das noctilucas é Noctiluca scintillans. Elas fazem parte do Reino Chromista, sendo um dinoflagelado unicelular microscópico. O nome do gênero Noctiluca significa brilho (luca) da noite (nocti). Suas características únicas são responsáveis pelos diversos nomes populares dados a elas: centelhas-do-mar, lágrimas-azuis, faísca-do-mar, fosforescência-do-mar, entre outros.


foto de indivíduos da espécie Noctiluca scintillans vistos pelo microscópio, em fundo azul, sendo possível ver ao menos 2 indivíduos por inteiro, em formato arredondado, transparente.

Detalhes de indivíduos da espécie Noctiluca scintillans. Fonte: Maria Antónia Sampayo/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).



Alimentação


As noctilucas, apesar de pequenas (de 200 micrômetros a 2 mm de diâmetro), são predadoras. Tendo apenas um pequeno tentáculo e um flagelo rudimentar, as noctilucas são incapazes de nadar; elas prendem seu alimento ao esbarrar com outros seres como plâncton, microalgas, bactérias e até ovas e larvas de peixes, engolindo-os por fagocitose, processo de alimentação em que o organismo engloba o alimento.



Distribuição


As noctilucas são estritamente marinhas e têm uma distribuição mundial, mas são mais comumente avistadas em praias dos EUA, Austrália, Tailândia, Japão, Porto Rico, Maldivas e Brasil! Sim! Você pode encontrar noctilucas por todo o Brasil, especialmente nas praias do sudeste e sul do país.


Essa ampla distribuição indica que as noctilucas são organismos tolerantes a múltiplos fatores físicos, químicos e biológicos. Porém, apesar de sua larga distribuição, o fenômeno do brilho marinho só é perceptível quando a concentração de indivíduos no local é alta. Mas como isso acontece?



BIOLUMINESCÊNCIA


O que é


A bioluminescência está presente em muitas espécies de fungos, algas, peixes e insetos, sendo o vagalume um dos exemplos mais comuns. Trata-se de um processo químico que resulta na produção de luz, a partir da oxidação de uma proteína existente nesses organismos, chamada luciferina. No ambiente marinho, a bioluminescência é produzida principalmente por componentes do fitoplâncton, especialmente dinoflagelados como as noctilucas.


Mar iluminado por noctilucas, com aspecto semelhante à via láctea. Fonte: Maldives Local Adventure/Pexels.



Há muito ainda para se estudar sobre a bioluminescência, mas os cientistas já sabem que ela está muitas vezes associada à atração de presas, à proteção contra possíveis predadores, ao reconhecimento de parceiros sexuais e à iluminação do campo de visão dos organismos.



Bioluminescência nas noctilucas


Quando a disponibilidade de nutrientes (matéria orgânica) em uma área marinha é muito alta, o que ocorre normalmente no verão quando as temperaturas estão mais elevadas, há um aumento de fitoplâncton que se alimenta destes nutrientes, e, em consequência, uma rápida multiplicação de organismos que se alimentam deles, como as noctilucas. Esse fenômeno é conhecido como “floração” ou “bloom”.


Nestes locais de alta concentração de noctilucas, quando há alguma perturbação mecânica, como o movimento da água, seja por ventos, ondas, o movimento de um barco ou mesmo o toque de nossas mãos, o processo da bioluminescência se desencadeia. Populações de noctilucas parecem acender, emitindo a magnífica luz que enxergamos.


foto de uma praia, a noite, onde é possível observar o mar azul escuro e ao fundo uma onda emitindo uma luz de coloração azul clara

Onda iluminada pela presença de noctilucas. Fonte: Bruce Anderson/ Wikimedia Commons (CC BY 2.0).



Cientistas acreditam que a bioluminescência das noctilucas as protege de duas formas: afugentando diretamente seus predadores naturais e atraindo peixes que predam seus possíveis predadores!


Apesar do fascínio que a beleza desses seres produzem em nós, cientistas têm se alarmado com a proliferação excessiva dos mesmos. As noctilucas não fazem mal para os humanos. Elas não são tóxicas e não produzem diretamente substâncias nocivas, mas, em altas concentrações, elas podem bloquear a passagem da luz solar, diminuindo os níveis de oxigênio na água, criando um ambiente hostil a outros organismos marinhos.


Em alguns casos, a alta concentração de noctilucas é um indicador ambiental de poluição da água no local, pois sua proliferação pode estar relacionada à alta concentração de nitrogênio e o fósforo na água marinha, substâncias comumente utilizadas na indústria agrícola.


Agora que você já sabe sobre a bioluminescência das noctilucas, aposto que você não vê a hora de ir à uma praia à noite e agitar a água do mar. Quem sabe você tenha a sorte de presenciar um dos mais belos fenômenos da natureza!




Bibliografia


DA ASSOCIATED PRESS. Misteriosas manchas fluorescentes iluminam o mar de Hong Kong. Globo G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/01/misteriosas-manchas-fluorescentes-iluminam-o-mar-de-hong-kong.html>. Acesso em: 28 nov. 2023.


REDAÇÃO GALILEU. Organismos tóxicos brilhantes estão se espalhando de modo descontrolado. Revista Galileu. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/06/algas-toxicas-brilhantes-estao-se-espalhando-de-modo-descontrolado.html>. Acesso em: 27 nov. 2023.


WORMS - WORLD REGISTER OF MARINE SPECIES. Noctiluca scintillans (Macartney) Kofoid & Swezy, 1921. Disponível em: <https://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=109921>. Acesso em: 12 dez. 2023.

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