Autores: Natália Portruneli, Rodrigo Ilho, Thais R. Semprebom, Julia R. Salmazo, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró
Organismos planctônicos vistos no estereomicroscópio. Fonte: Alvaro E. Migotto/Cifonauta (CC BY-NC-SA 3.0).
O plâncton compreende um conjunto de organismos geralmente de pequenas dimensões que não possuem capacidade natatória suficiente para nadar contra as correntes marinhas. A palavra plâncton deriva do grego “planktos”, que significa “errante; o que vaga; o que se desloca sem rumo". Pode ser classificado em diversas categorias de acordo com alguns critérios, sendo os principais os habitats, tempo de vida na forma planctônica, sistemática filogenética, deslocamento vertical e tamanho.
Conheça, nesse artigo, as principais dessas categorias!
CLASSIFICAÇÃO PLANCTÔNICA POR HABITAT
A diversidade de espécies planctônicas é imensa, garantindo a esses seres vivos uma ampla distribuição geográfica nos ambientes aquáticos. O plâncton pode ser classificado pelo tipo de ambiente aos quais são adaptados:
Limnoplâncton: compreende os organismos de água-doce.
Plâncton estuarino: habitam locais onde ocorrem o encontro de rios e mares, sendo adaptados à variação de salinidade.
Haliplâncton (hali, refere-se a “salino”): são o plâncton marinho. Estes podem ser divididos entre neríticos, que dominam regiões até a plataforma continental e oceânicos, que vivem além da plataforma continental.
CLASSIFICAÇÃO PLANCTÔNICA POR TEMPO DE VIDA NO PLÂNCTON
O plâncton pode possuir residência temporária ou permanecer todo o ciclo de vida na forma planctônica, sendo classificados como:
Holoplâncton: organismos que passam a vida toda na forma planctônica.
Meroplâncton: passam parte do desenvolvimento no plâncton até atingirem a forma adulta.
Ticoplâncton: organismos que vivem nos bentos, porém migram para a região pelágica por ação física do ambiente, como por exemplo, ondas e correntes oceânicas.
CLASSIFICAÇÃO PLANCTÔNICA PELA SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA E INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
Bacterioplâncton
O bacterioplâncton é composto por seres procariontes pertencentes ao domínio Bacteria, não apresentando carioteca separando o conteúdo nuclear da célula. Podem ser unicelulares, coloniais ou filamentosos. Integram a área pelágica dos oceanos, possuindo ampla distribuição geográfica marinha e participação de praticamente todas as ordens de bactérias. O bacterioplâncton pode ser autótrofo, heterótrofo ou mixotrófico. O bacterioplâncton autótrofo integrante da classe Cianophyceae habita a zona eufótica (maior incidência solar e, consequentemente, fotossíntese) em águas marinhas quentes, é responsável por 60% da produção primária marinha. São erroneamente chamados de algas azuis ou verdes. As bactérias fotossintetizantes representam um dos dois principais grupos de plâncton marinho fixador de carbono dos oceanos, assim como o fitoplâncton, liberando o oxigênio como subproduto.
O bacterioplâncton heterotrófico se utiliza da matéria orgânica e inorgânica particulada na água, participando da decomposição da matéria marinha, assim como na retomada dos nutrientes para o ambiente, dando continuidade ao fluxo de energia. Regiões muito poluídas com matéria orgânica e inorgânica em excesso apresentam eutrofização da água, podendo adquirir um aspecto esverdeado devido à alta proliferação de bactérias decompositoras. O crescimento populacional do bacterioplâncton forma uma camada densa na superfície da água, impedindo que os raios solares atinjam regiões mais profundas. O fenômeno resulta na morte de muitos animais e plantas que dependem da luz solar para o funcionamento metabólico.
Eutrofização da água por cianobactérias. Fonte: Michael Meiters/Flickr (CC BY-SA 2.0).
Fitoplâncton
O fitoplâncton é composto por organismos fotossintetizantes que participam da produção primária de matéria orgânica marinha. São unicelulares eucariontes (apresentam carioteca delimitando o núcleo) e habitam a zona eufótica oceânica (parte do ecossistema aquático que recebe luz), sendo base da cadeia energética e principais produtores de oxigênio. Mínimas alterações físico-químicas na água podem interferir negativamente nas populações de fitoplâncton devido à alta sensibilidade desses organismos, tornando-os potenciais bioindicadores ambientais. A análise desses organismos facilita a investigação de possíveis poluições e a elaboração de laudos de impactos ambientais.
A biomassa de fitoplâncton nos oceanos é dominada por alguns principais grupos:
As diatomáceas, ou algas douradas, apresentam 200 gêneros com mais de 100.000 espécies classificadas. Pertencem à classe Bacillariophyceae. São protistas autótrofos, eucariontes e clorofilados, que habitam águas geralmente frias ou temperadas fertilizadas (eutrofizadas), como as costas e plataformas continentais.
Os dinoflagelados são protistas unicelulares clorofilados da classe Dinophyceae. O nome faz referência à presença de dois flagelos perpendiculares no organismo, caracterizando uma natação em forma de "giros". A alimentação os classifica como mixotróficos: podem se alimentar de detritos presentes na coluna d'água, assim como realizar a fotossíntese. Apresentam clorofila a e c, assim como o caroteno (pigmento vermelho), este responsável pelo avermelhamento do mar após a floração, fenômeno conhecido como maré vermelha (que também pode ser amarela, marrom ou verde, dependendo do pigmento predominante na espécie). Durante a maré vermelha, metabólitos tóxicos são liberados no oceano, causando complicações na saúde de animais marinhos, podendo atingir o ser humano através do consumo de frutos do mar contaminados.
Os cocolitoforídeos são protistas clorofilados e flagelados da classe Prymnesiophyceae. O nome deriva de uma característica morfológica: o exoesqueleto possui diversas estruturas feitas de carbonato de cálcio (cocólitos) em forma de escama, podendo apresentar também certas protuberâncias ou deformidades que são utilizadas para a classificação taxonômica das espécies.
Os organismos pertencentes à classe Prymnesiophyceae participam integralmente não só nos ecossistemas marinhos como base da cadeia alimentar, mas também na ecologia do planeta. A floração desse tipo de fitoplâncton no mar modifica a coloração da água de um azul esverdeado para branco, devido ao carbonato de cálcio presente na estrutura corporal, refletindo a radiação solar, fenômeno conhecido com albedo. O albedo é responsável por auxiliar no resfriamento da temperatura planetária, amenizando os efeitos do aquecimento global. Os cocolitoforídeos participam também da bomba biológica marinha, transportando carbonatos da zona eufótica para regiões mais fundas, mantendo o gradiente vertical da alcalinidade na água do mar e fazendo a manutenção do ciclo do carbono.
Zooplâncton
O zooplâncton é constituído por seres do reino Animalia que transitam em todas as zonas dos oceanos, tanto na zona eufótica como na zona afótica. São heterótrofos e participam integralmente no controle populacional (predação) de outras espécies planctônicas. O zooplâncton herbívoro se alimenta do fitoplâncton e bacterioplâncton presentes na zona eufótica, impedindo a reprodução intensa dos organismos que consequentemente levariam à eutrofização da água. Diversas espécies marinhas pertencentes a quase todos os grupos zoológicos se integram ao zooplâncton. Os cnidários e os ctenóforos, por exemplo, fazem parte do zooplâncton, assim como pequenos crustáceos, anelídeos, gastrópodes e alguns vertebrados.
Diversas espécies de peixes marinhos desovam no plâncton e passam o estágio larval se alimentando dos nutrientes da região pelágica. Ovos, larvas e juvenis de peixes que habitam o plâncton recebem o nome de ictioplâncton.
Alguns integrantes do zooplâncton são ótimos indicadores ambientais, por apresentarem alta sensibilidade às alterações do meio. Fatores limitantes como temperatura, pH, oxigênio dissolvido, concentrações de nitrogênio, fósforo, entre outros, podem afetar o desenvolvimento das espécies dependentes do estágio zooplanctônico, afetando as populações adultas.
Cnidário pertencente à espécie Chrysaora lactea, exemplo de zooplâncton. Fonte: Alvaro E. Migotto/Cifonauta (CC BY-SA 3.0).
CLASSIFICAÇÃO PLANCTÔNICA POR DISTRIBUIÇÃO VERTICAL
O ambiente marinho possui divisões verticais chamadas de zonações, em que a profundidade determina a distribuição dos organismos. Fatores abióticos, como a penetração dos raios solares e a direção de correntes marinhas, influenciam no modo como os indivíduos planctônicos se organizam.
A zona eufótica é definida por uma alta taxa de fotossíntese e a zona afótica não apresenta penetração solar. O plâncton pode migrar de uma zona para outra transportando a produção primária. O fitoplâncton e bacterioplâncton autótrofo realizam a fotossíntese no período diurno, enquanto o zooplâncton permanece nas zonas mais profundas. Durante o período noturno, o zooplâncton migra para a superfície para se alimentar e, ao retornarem para a zona afótica pela manhã, defecam e enriquecem o fundo oceânico com material orgânico que servirá de alimento para outros organismos.
Dessa forma, o plâncton também pode ser classificado em:
Pleuston: organismos que vivem acima da coluna d'água, sendo transportados por ventos.
Neuston: organismos que vivem na superfície da água. Estes podem ser divididos ainda em epineuston (habitam a primeira camada) e hiponeuston (abaixo do epineuston).
CLASSIFICAÇÃO PLANCTÔNICA POR TAMANHO
Os organismos planctônicos possuem tamanhos distintos, característica que pode ser utilizada para classificação dos tipos de plâncton, como mostra a imagem:
Classificação planctônica por tamanho. Fonte: modificado de Sieburth et al., 1978, via Mario Katsuragawa/IOUSP.
O plâncton é composto por organismos complexos que podem ainda possuir outras formas de classificação. A biodiversidade do plâncton marinho é vasta, com inúmeras interações ecológicas relacionadas. Aqui, apresentamos as principais formas de classificá-los, mas os cientistas podem fazer classificações ainda mais detalhadas.Para saber mais sobre o plâncton marinho e deslumbrar-se com imagens hipnotizantes, assista a esse vídeo incrível produzido pelo canal TED-Ed (ative a legenda em português, se necessário).
Escute este artigo também pelo nosso Podcast. Clique aqui!
Bibliografia
RUPPERT, E. E.; BARNES, R. D. Zoologia dos Invertebrados. 6. ed. São Paulo: Ed. Roca. 1996. 1029p.
SANTOS, M. L. Estrutura e Dinâmica do fitoplâncton e bacterioplâncton em cultivos de camarão no Rio Grande do Norte-Brasil: Impacto sobre o ambiente natural. Centro de Biociências. Natal. Fev, 2008.
Comments