Autores: Fernanda Cabral Jeronimo, Nicholas Negreiros, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
Você sabia que é possível atribuir um valor econômico a um recurso ambiental? Fonte: Fernanda Cabral ©.
O QUE É VALORAÇÃO AMBIENTAL?
A valoração ambiental é responsável por atribuir um valor econômico a um recurso natural de forma a monetizar os serviços ambientais. Na literatura, a primeira hipótese do quanto valia um recurso ambiental foi apresentada em 1947 por Ciriacy-Wantrup, em um artigo intitulado "Capital Returns from Soil-Conservation Practices" (Retorno de capital nas práticas de conservação de solos), que listou os benefícios resultantes da contenção da erosão dos solos.
Estudos que envolvem a valoração ambiental buscam estimar e monetizar os serviços que os ecossistemas proporcionam para nós, seres humanos, muitas vezes comparando-os com outros já disponíveis na economia, como serviços de bem-estar, recreativo, cultural, entre muitos outros. Essa estimativa pode ser feita, inclusive, baseando-se na disponibilidade do recurso, o quanto ele é utilizado e o quanto ele influencia na sociedade.
COMO O VALOR DE UM RECURSO AMBIENTAL É DEFINIDO?
Valorar um recurso ambiental é um processo complexo que inclui muitas vertentes a serem consideradas. Um exemplo importante a ser levado em conta são os serviços ecossistêmicos. Esses serviços são benefícios fornecidos à sociedade, resultantes do próprio funcionamento do ecossistema, como a regulação do clima, controle de erosão do solo, regulação de água, oferta de matéria-prima, polinização, entre outros que possuem imenso valor para o coletivo.
Muitas populações dependem diretamente dos oceanos, que são utilizados para o transporte e são fontes de alimento e lazer. Fonte: chanwity/Pixabay.
Além disso, é importante haver um conhecimento prévio sobre o recurso a ser valorado. Onde está localizado? Quais são suas funções ambientais? O quão melhor ou pior estará a sociedade diante da diminuição ou aumento dos serviços ambientais fornecidos por tal recurso? Saber as respostas para estas perguntas é decisivo para determinar o valor econômico de um recurso natural.
Existem vários métodos que podem ser aplicados em um estudo de valoração ambiental, dependendo do recurso analisado, como:
Valor de opção: o método demonstra economicamente como a preservação do recurso ambiental impacta positivamente o coletivo. Por exemplo, preservar as árvores garante sombra, abrigo, alimento e regulação de chuvas.
Valor de uso direto: esse método de estudo lista os benefícios econômicos do uso direto do recurso, como a extração, a coleta e o turismo.
Valor de uso indireto: é o valor atribuído meramente à presença do recurso na natureza ou suas funções ambientais, como a captura de carbono pelos oceanos.
Valor de existência: neste caso, o valor pode depender da visão cultural ou moral atribuída ao recurso, seja ele utilizado no presente ou não. Basicamente, este método quantifica um valor de não-uso atribuído à existência e manutenção do artifício ambiental. Por exemplo, a preservação de uma área florestal, pois possui uma importância enraizada, um valor pessoal, que desperta o interesse por garantir a sua existência, mesmo que esteja longe e não seja usufruída de forma direta.
De forma geral, o valor total de um recurso ambiental é o resultado da soma dos quatro valores listados acima, responsabilidade atribuída ao analista ambiental, que deve listar de forma clara e exata os valores estimados.
POR QUE VALORAR A NATUREZA?
Valorar um recurso ambiental não permite que as pessoas o adquiram como um bem, pagando o que foi estipulado. Na verdade, essa ferramenta de estudo tem como objetivo auxiliar na implementação de políticas de conservação ambiental. Economicamente falando, torna-se possível comparar o custo-benefício de medidas alternativas ao uso do artifício ambiental.
Um exemplo que caracteriza muito bem essa comparação é um estudo recente do Fundo Monetário Internacional e da Universidade de Duke, em parceria com o Projeto Baleia Jubarte e a associação Great Whale Conservancy (GWC), que estimou o valor das baleias vivas.
O ecoturismo suplementa a economia na baixa temporada e direciona o olhar dos turistas à preservação dos animais e do ambiente. Fonte: skeeze/Pixabay.
Durante séculos, o valor de uma baleia era estimado a partir do preço da venda do óleo extraído do animal após sua captura e abate. Isso porque essa era a única serventia das baleias para a população, já que o óleo era o insumo mais valioso na época.
No entanto, o recente estudo demonstra os diversos serviços que as baleias vivas prestam ao meio ambiente, tanto no presente, como no futuro. Os cetáceos são responsáveis por uma grande parcela do sequestro e reciclagem do carbono atmosférico, estimulam o crescimento do fitoplâncton (que é a base da cadeia alimentar aquática) e podem movimentar e estimular o crescimento econômico local com o ecoturismo.
A partir da comparação com os valores de mercado atuais, os serviços ambientais fornecidos pelas baleias valem cerca de 82,5 bilhões de dólares. O que quer dizer que esse seria o valor desembolsado para suprir tudo o que as baleias fazem pelo meio ambiente com a tecnologia que temos disponível!
Sendo assim, a valoração ambiental traduz economicamente a pluralidade de benefícios que um artifício ambiental possui, sem que se valorize somente o produto final, mas sim todo o contexto em que está inserido. Esse é mais um método de estudo que pode direcionar a atenção coletiva para preservação dos ecossistemas e recursos naturais.
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Bibliografia
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