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Pinguins voadores? Um passado evolutivo interessante

Atualizado: 4 de fev. de 2021

Autores: Raphaela Alt Müller, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró



Os pinguins são aves marinhas que não voam, em vez disso, utilizam habilmente as suas asas modificadas em nadadeiras para nadar. Essas aves são da ordem Sphenisciformes e pertencem à família Spheniscidae. Habitam principalmente o hemisfério sul, como na Antártica e em porções de águas mais frias de continentes ao sul. Entretanto, há espécies de pinguins que habitam regiões de trópicos, como o Pinguim-de-Galápagos.


Existem cerca de 17 a 19 espécies de pinguins (variações que diferem dependendo da publicação), sendo 18 espécies o mais utilizado, estando divididas em seis gêneros: Eudyptes, Megadyptes, Eudyptula, Pygoscelis, Aptenodytes e os Spheniscus. A classificação em reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie (por exemplo) fazem parte da Taxonomia de Lineu, o gênero é a categoria taxonômica que corresponde ao conjunto de espécies com características morfológicas e funcionais muito semelhantes e com ancestrais comuns mais próximos.



Foto de um grupo com cerca de 10 pinguins, sobre uma superfície gramada. A maioria está olhando para o horizonte e um deles está se coçando.

Grupo de pinguins do gênero Aptenodytes. Fonte: Djwosa/Pixabay (CC0).



POR QUE ESSE GRUPO, AO CONTRÁRIO DAS OUTRAS AVES MARINHAS, RESOLVEU ABANDONAR OS ARES E SAIR NADANDO POR AÍ?


Os pinguins se alimentam de animais encontrados na água, como peixes de pequeno porte e algumas espécies de crustáceos. Por isso, eles precisam ser ótimos nadadores para poderem comer e sair com rapidez da água antes de serem predados por outros animais. Assim, em um passado muito distante, eles conseguiam voar.


Durante o processo evolutivo, uma habilidade acabou superando a outra. Principalmente em habilidades que utilizam as asas, ou seja, se tornando melhores na natação, para obtenção de sua fonte de alimento, consequentemente eles perderam a habilidade para o voo. Diversas mudanças corporais no decorrer da adaptação à vida aquática colocaram os pinguins no caminho do mar, e num processo evolutivo que ocorreu ao longo de milhares de anos, acabaram perdendo sua capacidade de voar.



Foto de dois pinguins, em primeiro plano, em cima de pedras. O mais à esquerda está de costas para a câmera, olhando para a direita. O segundo pinguim está de lado, olhando para a esquerda, em direção à câmera. No segundo plano vemos mais pinguins em cima das pedras. No terceiro plano está o horizonte com o céu e várias montanhas congeladas

Grupo de pinguins da espécie Pygoscelis antarcticus, também conhecido como Pinguim-de-barbicha. Fonte: Free-Photos/Pixabay (CC0)



MAS O QUE MUDOU NO CORPO DESSES ANIMAIS DURANTE MILHARES DE ANOS DE EVOLUÇÃO?


Os pinguins passaram por um conjunto de modificações morfológicas, fisiológicas e comportamentais no decorrer de sua transição dos ares para uma vida terrestre e aquática. Algumas dessas modificações foram:

  • Penas:

As penas foram ficando cada vez mais densas, oferecendo um isolamento térmico, além de serem mantidas em um arranjo impecável por causa do frequente comportamento em que o bico é utilizado para colher a secreção da glândula uropigial (glândula de gordura localizada na base da cauda) e espalhá-la sobre as penas, mantendo o animal impermeável dentro e fora da água.



Foto mostrando a pele de um pinguim imperador com várias penas. As penas encontram-se aglomeradas, formando uma densa e alta camada de penas.Na parte inferior da imagem está escrito "The Trustees of the Natural History Museum, London".

Detalhe da densidade das penas do Pinguim-imperador. Essa ave suporta temperaturas de -60ºC. Fonte: Museu Natural de História de Londres/Twitter ©.



  • Ossos:

Houve uma redução no tamanho da asa, transformando-as em nadadeiras, o que faz a natação mais eficiente. Ossos leves e pneumáticos, característica de aves voadoras, foram dando lugar para ossos mais densos, que ajudam o pinguim a boiar menos na hora de mergulhar. Diferentemente das aves marinhas volantes, as asas do pinguim apresentam ossos achatados.



Foto do esqueleto de um pinguim num fundo azul escuro. O esqueleto está posicionado de forma que o pinguim parece estar voando.

Esqueleto de um Spheniscus magellanicus do Museu Estadual de História Natural Karlsruhe, Alemanha. Fonte: H. Zell/Wikimedia (CC0)


  • Corpo:

Essas aves possuem uma espessa camada de gordura embaixo da pele que ajudam a manter a temperatura corporal.

  • Nado:

Quando um pinguim está nadando, ele usa as pernas e pés para propulsão, enquanto a cauda funciona como leme. Penas curtas e impermeáveis, associadas ao corpo hidrodinâmico, diminuem o atrito com a água. Em consequência, o pinguim pode nadar a velocidades de até 40 km/h, e são consideradas as aves mais eficientes no nado.


Muitas das características que tornam as nadadeiras de pinguins tão eficientes na propulsão subaquática são incompatíveis com o voo aéreo e, portanto, as modificações mais drásticas para o nado foram acontecendo após eles perderem a capacidade de vôo.



QUAL GRUPO DE AVES ATUAIS QUE PODEM SER COMPARADAS COM OS ANTIGOS PINGUINS VOADORES?


Estudos, incluindo análises baseadas em morfologia e análises moleculares, sugerem que os Sphenisciformes e os Procellariiformes (albatrozes e petréis) são táxons irmãos, ou seja, ambas as ordens tiveram um ancestral comum há milhões de anos. Estimativas moleculares sugerem que essa divergência ocorreu durante o Cretáceo (entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás), consistente com o grande grau de disparidade morfológica entre pinguins e seus táxons irmãos Procellariiformes.


Podemos comparar os pinguins volantes com o airo-de-asa-branca (Cepphus grylle). Essa espécie é evolutivamente próxima aos pinguins, e é considerada a segunda melhor ave nadadora, perdendo apenas para os pinguins. Para nadar, gasta pouca energia, porém, quando voa, gasta muita energia quando comparada com outras aves volantes.



Foto de uma ave nadando na superfície do mar.

Airo-de-asa-branca (Cepphus grylle), considerada evolutivamente próxima dos pinguins, é uma espécie da família Alcidae e é encontrada ao longo da costa do Atlântico Norte. Fonte: csr_ch/Pixabay (CC0)



Em conclusão, é de comum acordo entre os cientistas que os pinguins evoluíram de um ancestral volante. No entanto, o momento da evolução, o qual a linhagem dos pinguins divergiu do grupo irmão (que ainda manteve o voo aéreo), permanece desconhecido.




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Bibliografia


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HANDWERK, BRIAN. Why Did Penguins Stop Flying? The Answer Is Evolutionary: Penguins‘ swimming prowess cost them their ability to fly, a new study says.. In: NATIONAL GEOGRAPHIC, 21 maio 2013. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/news/2013/5/131320-penguin-evolution-science-flight-diving-swimming-wings/. Acesso em: 29 nov. 2019.


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