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Reprodução de corais branqueados: uma esperança à conservação

Atualizado: 6 de mai. de 2022

Autores: Luane Rodrigues, Fernanda Cabral Jeronimo, Aline Pereira Costa, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró



Na fotografia está um conjunto do coral chifre-de-veado, todos branqueados. O coral possui um formato de chifre, como o nome diz, e se distribui em todas as direções.

Fotografia do coral chifre-de-veado Acropora cervicornis branqueado. Fonte: Matt Kieffer/Flickr (CC BY-SA 2.0).



O branqueamento dos corais é uma das maiores ameaças à sobrevivência de todo o ecossistema marinho. Com o aumento da temperatura dos oceanos, a relação mutualística entre os corais e as algas zooxantelas é interrompido e as mesmas abandonam o coral, que pode morrer.


Mas, recentemente, uma esperança surgiu em relação ao processo de reprodução de corais, vindo de dois corais pétreos do gênero Mussismilia - Mussismilia hispida e Mussismilia harttii, encontrados no recife de corais do Recife de Fora, na Bahia, que foram capazes de reproduzir-se enquanto estavam branqueados. A observação deste acontecimento ocorreu na base de pesquisa do Projeto Coral Vivo. Os corais deste gênero já haviam sido acompanhados por pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, que identificaram que o coral Mussismilia hispida, mesmo com sua população branqueada em 80%, a taxa de mortalidade está em 2%.



Fotografia de um coral branqueado exposto no museu. Possui um formato arredondado com partes menores circulares.

Fotografia do coral-couve-flor Mussimilia harttii no acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Fonte: Dornicke/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



O processo de reprodução, principalmente a gametogênese - que é a formação dos gametas - requer um gasto energético muito grande. Sendo assim, a disponibilidade de alimentos durante esse processo é fundamental, mas os corais branqueados geralmente possuem pouca ou nenhuma energia que possa ser utilizada no processo. Entretanto, a resistência das espécies M. harttii e M. hispida ao aumento da temperatura, e consequentemente ao branqueamento, possui algumas explicações. Dentre elas estão o formato do seu esqueleto, a tolerância a águas turvas, a sobrevivência em maiores profundidades, os nutrientes disponíveis e as relações simbióticas mais flexíveis.


Por se tratarem de corais maciços, consomem alimentos em grande quantidade, o que indicou para os pesquisadores que essas espécies encontram maneiras de suprir suas necessidades energéticas e fisiológicas sem a presença das algas simbiontes. Além dessas observações, os ovócitos e espermatozoides produzidos por essas espécies estavam em boas condições, permitindo a formação de larvas viáveis, quando comparados a corais saudáveis, a qualidade dos gametas tinha uma qualidade levemente inferior, mas que não interferiu no processo de reprodução.



Fotografia de um coral-cérebro. A sua estrutura corpórea é composta de regiões maiores e arredondadas, com linhas brancas nas bordas e o centro alaranjado. Neste centro, estruturas cônicas e alaranjadas compõem o organismo, que nada mais são que o aparelho bucal do organismo.

Fotografia do coral-cérebro Mussimilia hispida na Ilha de Abrolhos com o aparelho bucal amostra para se alimentar. Fonte: Igor Cristino Silva Cruz/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



Estudos em outras áreas do mundo onde o branqueamento ocorreu demonstraram que, após a recuperação, os corais conseguem se reproduzir, mas até o momento não se tinha registro de corais branqueados se reproduzindo. Essas descobertas científicas apontam uma esperança para a recuperação dos corais frente ao branqueamento e estresse térmico, além de indicar que os corais presentes no Sudoeste do Atlântico possuem uma resistência particular em relação a esses eventos, sendo considerados um refúgio para as mais diversas espécies por muitos especialistas.


Por fim, é importante dizer que, mesmo com esses resultados encontrados, a proteção a esses organismos deve continuar. Afinal, eles não estão protegidos de outras ameaças e pressões e não se sabe se todas as espécies de corais que estão branqueados têm a capacidade de se reproduzir. Com a velocidade que mudanças estão acontecendo no oceano, os recifes de corais estão chegando aos seus limites.



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Bibliografia


Coral Vivo - Notícias - Estudo mostra que corais brasileiros são capazes de se reproduzir mesmo estando completamente branqueados. Disponível em: <https://coralvivo.org.br/noticias/mesmo-completamente-branqueados-corais-brasileiros-s%C3%A3o-capazes-de-se-reproduzir>. Acesso em: 2 maio 2021.


GODOY, L.; MIES, M.; ZILBERBERG, C. et al. Southwestern Atlantic reef-building corals Mussismilia spp. are able to spawn while fully bleached. Marine Biology, v. 168, n. 2, p. 15, 2021.


Ministério do Meio Ambiente. Recifes de Corais. Disponível em: https://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-aquatica/zona-costeira-e-marinha/recifes-de-coral.html. Acesso em: 02 maio 2021.


REEFBITES. “I’m bleached but I ain’t dead!”: successful spawning observed in fully bleached corals in Brazil. Disponível em: <https://reefbites.com/2021/04/26/im-bleached-but-i-aint-dead-successful-spawning-observed-in-fully-bleached-corals-in-brazil/>. Acesso em: 2 maio 2021.


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